terça-feira, 23 de setembro de 2014

Força da natureza.

Coloquei um desafio a mim própria , para 2 semanas,  que foi acabar de ler um livro que iniciei nas férias. Acabei de o ler na semana passada (e fiquei grata pela sugestão e por ter conseguido acabar a sua leitura). 

"A cor do hibisco" de Chimamanda Ngozi Adichie. Em primeiro lugar aprendi como se chamam aquelas flores lindas com que gosto de decorar o cabelo da pequena M., que flor linda, e em segundo lugar QUE HISTÓRIA. Talvez seja a violência, que tanto me atrai nas leituras, os diferentes tipos de violência, como pode ser justificada e aplicada, talvez fosse a ideia brilhante de escrever sobre um país, sobre a sua cultura, de uma forma desprentensiosa e muito bem escrita. Algo ou tudo isto, fosse o que fosse, cativou-me.

Uma das personagens que mais gostei a tia Ifeoma é obrigada a deixar o seu país devido à situação política e económica que este atravessava, assim deixou a Nigéria com os seus filhos, contrariada, mas emigrou para os Estados Unidos da América e de lá escreve para a a narradora: 

"A tia Ifeoma escreve à mãe e a mim. Escreve sobre os seus dois empregos, um num instituto superior e outro numa farmácia, ou drogaria, como eles lhe chamam. Escreve sobre os tomates enormes e o pão barato. Acima de tudo escreve sobre as coisas de que tem saudades e pelas quais anseia, como se ignorasse o presente para viver no  passado e no futuro. "

São palavras escolhidas ao acaso ou são pensadas e sentidas? 

O presente, frequentemente, não é suficientemente bom para pensarmos nele porque doí pensar nele- sentimos que é bom recordar e refugiar a nossa mente e coração no passado - naqueles bons momentos raros ou frequentes, ou ainda no passado que tentamos interpretar, ou no "e se...". 

Ou preferimos fugir para o futuro porque acreditamos que algo grandioso nos está destinado.
Acreditar que o euromilhões nos vai sair, que o príncipe encantado está ao virar da esquina, que arranjaremos um emprego que vai ser melhor, que alguém nos irá ouvir no duche e descobrir o talento que desconhecíamos ou que escondíamos,ou tantas outras formas de existir no futuro e imaginá-lo, que nos esquecemos de apreciar ou mudar o presente que queremos ignorar ou esquecer.

É mais fácil mudarmos o nosso sentir e a nossa existência do que a do mundo inteiro, e esse ser mais fácil é muito difícil porque somos seres de hábitos, mas é possível. 

O contexto de onde foi retirada esta reflexão é o da migração e não é sobre esse cenário que estou a escrever. A tia Ifeoma é uma personagem enorme, de quem todos gostariam de ser sobrinhos - uma força da natureza! Se ela se refugia no passado ou pensa no futuro é porque sabe que noutra situação o seu país seria o lugar onde ela queria criar os seus filhos e morrer. Porque ela sabia muitas coisas e sabia acima de tudo sentir.  

Aquilo sobre o que escrevi é , um pouco, sobre mim e outros "eus", sobre alguns que deixam a vida passar sem viver o seu presente, sem transformarem o seu futuro. 

Vale a pena tanta coisa que o medo não deveria tirar de nós, o cansaço não deveria ser a desculpa e os outros não deveriam ser um obstáculo, mas mesmo que todas estas forças e energias negativas nos levassem para baixo, elas deveriam ser somente obstáculos que como numa corrida se ultrapassam ou derrubam, uma corrida que queremos ganhar:  apreciando todos os momentos, sentindo que eles só param de acontecer se nós permitirmos.