Há alguns anos inscrevi-me num curso de escrita de humor
porque fazia sentido. Na segunda aula fui convidada, pela Formadora, a
desistir. Ela dizia: “Marta tens que perceber que não foste feita para isto,
não é suposto termos que explicar a piada, e ainda por cima várias
vezes.”
Mas eu não desisto! Acho que tenho um talento inato e bruto,
e por isso venho partilhar a ideia que tive na altura e que agora ganhou forma.
A criação de um manual de sobrevivência. Afinal isto de nos mantermos vivos é
um trabalho para a vida.
A ideia de criar este manual de sobrevivência nasceu das
repetidas conversas sobre “Afinal o que é isto de viver?” que tive, com os meus
amigos, enquanto alcoolizada. A acrescentar que a vasta e rica experiência de
vida que tenho valida o método de trabalho que defendo, que é a realização do
trabalho de campo alcoolizada. E é durante estes momentos de lucidez e cegueira
que questiono o que pode determinar o nascimento de grandes ideias.
Eu defendo que todos nós somos como Arquimedes, e que nos
momentos mais simples da vida, como tomar um banho, resolvemos as grandes
questões da humanidade. E ali gritamos: EUREKA, EUREKA! E tal como Arquimedes
estamos nus e vamos gritar para a rua: Achei, Achei!
Pelo menos é esta a explicação que dou à polícia sempre que
eles me surpreendem nas minhas descobertas existencialistas.
EUREKA, EUREKA que descobri como pode ser maçador fugir à
morte todos os dias, mas tal como uma corrida desde o primeiro dia, até ao
último suspiro, é uma corrida que todos fazemos.
E este Manual pretende impedir que se distraiam com as
coisas básicas, como compreender o mundo ou a nós mesmos.
Tem como grande objectivo orientar para o que é importante,
o que nos deixa estupidamente felizes.
Vou deixar-me de explicações e de sofismos e vou passar à
prática.
Vou por isso começar pelo princípio do
princípio.
O NASCIMENTO
Existem inúmeras explicações para descreverem como
tudo começou.
Algumas parecem-me criação de mentes que vivem no mundo da
fantasia.
Por exemplo, muitas pessoas acreditam que “No princípio
Deus criou o céu e a terra e o resto veio atrás, os animais, os humanos, e
os sacanas.
Ora esta é uma daquelas fábulas que não tem pernas para
andar, isto porque sabemos que Deus é perfeito e que criou tudo na perfeição.
Certo? E que depois veio o Diabo, que veio sacanear isto tudo e levou
os primeiros humanos a pecar. E só depois é que veio o mal todo. Eu não vou
questionar a origem do Diabo no meio de toda a perfeição porque essa parece-me
a parte mais fácil de explicar.
O que não consigo compreender é como é que um Deus,
perfeito, omnipotente, que criou um paraíso, que criou o George Clooney e a
Angeline Jolie tenha criado o homem e a mulher da forma como eles são. A sério
já viram os genitais de um ser humano? Mas viram com atenção?
Aquilo nunca pode ter sido perfeito, mesmo os mais
aceitáveis. É por isso que a ideia da criação não me convence. São aquelas
pontas soltas…
A outra teoria, que há quem a defenda, é a da evolução. E
confesso que durante a minha tenra adolescência ainda acreditei que talvez
fosse viável, principalmente porque era uma assídua telespectadora de
telenovelas da Globo, e aquele ator brasileiro, o Tony Ramos dava força a esta
teoria.
Mas numa conversa que tive sobre o a origem das espécies,
enquanto alcoolizada. Eu e a minha amiga Rita chegamos à conclusão que nada
escrito por um Carlos pode ser verdade.
Isto porque ela tinha acabado um namoro de dois longos meses
com um Carlos que afinal era casado e tinha 4 filhos.
Ela perguntou: “Como é que se chama o tipo que escreveu
isso?” E eu disse “Darwin”. E depois acrescentei: “Charles Darwin” e aí ela
respondeu cheia de certeza, enquanto arrotava: “os Carlos são todos uns
canalhas. Olha o Carlos Cruz!”
E eu fui obrigada a concordar com ela. E libertei-me de mais
uma fábula.
Mas é importante acreditar em alguma coisa.
Por isso li, muito e afincadamente, diversos livros
infantis, sobre a origem da vida.
E foi durante a leitura do livro “ups, a cegonha vem aí” que
descobri como tudo começou. Primeiro despi-me, depois saí à rua, e de seguida
gritei “Eureka, Eureka.”
Acordei na esquadra da polícia, sem documentos, sem roupa e
sem telemóvel. Mas eles já me conhecem e ligaram ao meu pai para me vir buscar.
E ele foi, mas desta vez vinha preparado com uma daquelas conversas
inspiradoras de pai para filha. Basicamente o que ele disse foi: “Estou farto
de acordar, durante a noite, com a polícia a ligar para te vir buscar. Ou
desistes disto, ou aprendes a correr.” E ficámos assim.
Descobri como tudo começou, mas mais importante descobri a
vida difícil que as cegonhas têm.
Trazer uma criança a este mundo já não é o que era. Ele há a
autodeterminação dos povos que exigem novas fronteiras, novas moradas, ele há
guerras, a eletricidade, e os postes de eletricidade, o tráfego aéreo, chaminés
quase inexistentes, exaustores, Malthaus, e tantos outros desafios.
A persistência das cegonhas é sem dúvida a única razão para
que continuemos a assistir a nascimentos.
Escusam de andar por aí a colocar sementes, deixem-se disso,
dessa trabalheira. Não vale a pena.
O que realmente importa é facilitar a vida às pobres
cegonhas.
Assim, os meus conselhos são: contratar um bom
limpa-chaminés; tirar as fisgas das mãos dos putos quer tenham boa ou má
pontaria, e escrever, às cegonhas, com letra legível.
Resumindo, se depois da notícia que vem aí um bebé, se o
bebé chegar mesmo depois de 9 meses dessa notícia sabemos que esses bebés,
dependente dos meses de gestação, tiveram 280 dias a fugir à morte. E é por
isso que quando os bebes chegam a casa, finalmente podem dormir e esquecer a
atribulada viagem que fizeram, e chorar sempre que se lembram das pancadas e
quedas que deram embrulhados naquela fralda.
Finalmente perceberam como é que Jesus nasceu?
Mas mais desafios existem e eu tenho algumas sugestões
para sobreviver a eles.
Mantenham-se por aí!
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