domingo, 16 de julho de 2017

Quem canta seus males espanta...

A minha vizinha está a cantar, e que bem que ela canta 
Ela canta sobre a saudade.
A sua voz tropical e quente aconchega a minha alma
Parei a máquina de lavar roupa porque quero ouvi-la, escutá-la, sentir o que diz. 

A vizinhança, ao redor, deve estar como eu, arrepiada.
A pensar se quando ela terminar se deve bater palmas 
e se ao bater palmas a interromper no seu canto de sereia?
ou se calhar não estão como eu...

Ouvi-la, a forma como se expressa, como prolonga certas melodias
Transportou-me para algo que aprendi durante a licenciatura de antropologia, 
sobre as origens de alguns estilos de música, como o jazz e o próprio fado,
A beleza dos ritmos, a intensidade das palavras tudo associado à libertação
quando o corpo está preso ou apartado e o refúgio que encontra para se resgatar
para se confortar. 
poemas lindos, hinos e cânticos que relembram factos históricos que os exaltam e perduram na memória individual e colectiva.

O ser humano é grandioso, 
infelizmente para o bem e para o mal
Há quem se alimente e cresça na maldade e 
há também quem crie e se suplante no meio dessa mesma maldade.

Há ainda quem tente estragar momentos de beleza e de arte 
e algumas vezes com sucesso, mas nem sempre.

Neste momento ganharam os estraga prazeres. 
Enquanto eu parei a máquina para ouvi-la melhor 
Houve alguém que se lembrou de apanhar a roupa 
e foi a chiadeira da roldana emperrada que estragou o momento. 
Ela calou-se. 
Acabou a melodia e o doce. 
Este é um mês estranho para mim
a pessoa que sou é um somatório de tantas vivências 
que às vezes esqueço a morte. 
o fim da vida, de ciclos, de momentos. 
e como é difícil e doloroso ultrapassar esses momentos. 

Mas haverá sempre uma música, uma melodia, um poema
uma bóia que nos mantém à tona. 

e enquanto acabo de escrever este post, agora no silêncio da vizinhança 
revisito a Viviane  na música "A vida não chega" (é o que faço desde há 12 anos)  e com esta música, um nó na garganta aperta, 
mas chorar também limpa a alma e como não há mal que sempre dure, vou aceitando que a vida não chega para tudo:   

"Tenho tanto por dizer

Tanto por te contar

Que a vida não chega"