A minha vizinha está a cantar, e
que bem que ela canta
Ela canta sobre a saudade.
A sua voz tropical e quente
aconchega a minha alma
Parei a máquina de lavar roupa
porque quero ouvi-la, escutá-la, sentir o que diz.
A vizinhança, ao redor, deve estar
como eu, arrepiada.
A pensar se quando ela terminar se
deve bater palmas
e se ao bater palmas a interromper
no seu canto de sereia?
ou se calhar não estão como eu...
Ouvi-la, a forma como se expressa,
como prolonga certas melodias
Transportou-me para algo que
aprendi durante a licenciatura de antropologia,
sobre as origens de alguns estilos
de música, como o jazz e o próprio fado,
A beleza dos ritmos, a intensidade
das palavras tudo associado à libertação
quando o corpo está preso ou
apartado e o refúgio que encontra para se resgatar
para se confortar.
poemas lindos, hinos e cânticos
que relembram factos históricos que os exaltam e perduram na memória individual
e colectiva.
O ser humano é grandioso,
infelizmente para o bem e para o
mal
Há quem se alimente e cresça na
maldade e
há também quem crie e se suplante
no meio dessa mesma maldade.
Há ainda quem tente estragar
momentos de beleza e de arte
e algumas vezes com sucesso, mas
nem sempre.
Neste momento ganharam os estraga
prazeres.
Enquanto eu parei a máquina para
ouvi-la melhor
Houve alguém que se lembrou de
apanhar a roupa
e foi a chiadeira da roldana
emperrada que estragou o momento.
Ela calou-se.
Acabou a melodia e o doce.
Este é um mês estranho para mim
a pessoa que sou é um somatório de
tantas vivências
que às vezes esqueço a
morte.
o fim da vida, de ciclos, de
momentos.
e como é difícil e doloroso
ultrapassar esses momentos.
Mas haverá sempre uma música, uma
melodia, um poema
uma bóia que nos mantém à
tona.
e enquanto acabo de escrever este
post, agora no silêncio da vizinhança
revisito a Viviane na
música "A vida não chega" (é o que faço desde há 12 anos) e com esta música, um nó na garganta
aperta,
mas chorar também limpa a alma e
como não há mal que sempre dure, vou aceitando que a vida não chega para tudo:
"Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega"