segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Pudesse eu...

não irritar-me... muito...

Mas ainda posso irritar-me com coisas das quais não gosto?!? Certo?
Irritada porque penso que as coisas podem ser sempre feitas de outra forma. Uma que considero mais correta.

Por exemplo, irrita-me o novo acordo ortográfico. 
Sempre achei a ideia do novo acordo ortográfico ridícula.

Mas ser obrigada a escrever e ler “para” em vez de “pára” irrita-me tanto, mas tanto que me apetece parar a pessoa que teve esta ideia e perguntar-lhe porque não brinca ela com outra coisa que não seja a nossa língua. Irrita-me porque não faz sentido, e porque é estúpido. Recuso-me a escrever a palavra pára de outra forma que não seja esta, com acento.
E farei como outros, e só escreverei segundo o acordo ortográfico quando for obrigada e quando não for completamente  estúpido fazê-lo. (Camões perdoa-os porque eu não consigo!!!)

Outra coisa que me irrita, começar a ler um livro, do qual até gosto do enredo, mas para o qual preciso ter um dicionário ao lado para compreender os adjectivos utilizados porque a linguagem usada não faz parte do meu léxico... Mário Vargas Llosa estás a dar-me tanto trabalho! Haja paciência até para um prémio Nobel. 

Irrita-me o facto de uma boa parte das vezes ter que ser mãe, ao invés de ser amiga dos filhos. Quando eles fazem malandrices e me apetece rir com eles, mas não, não devo ou não posso perder a oportunidade de os educar/formar, assim tenho que ralhar ou castigá-los. Irrita-me que o cansaço me vença quando também me apetece espalhar  farinha pela casa...

Fico, ainda, bastante irritada com programas que comentam jogos de futebol. Esses comentadores  levam mais tempo a discutir o jogo  do que aquele que o jogo efectivamente demorou. E as vozes deles... Aqueles tipos foram escolhidos a dedo…  a solução a curto prazo consiste em afastar-me, mas a longo prazo acho que poderiam mesmo ser eliminados.... da programação. 

Outra coisa que me irrita, a arrogância no geral e em particular quando me afecta. Sabem o que é que eu fazia com os arrogantes? É uma pena não ter tempo...

Irrita-me muito quando alguém de quem gosto está triste. Que alguém que eu gosto seja magoad@.

E irrita-me ainda mais não conseguir voar, não ter acesso a pozinhos mágicos que em algumas histórias nos deixam voar. Queria ser capaz de transportar “as minhas pessoas” para lugares seguros. Queria ser capaz de ir ao futuro e regressar e acalmar a sua dor e tristeza e sussurrar no seu ouvido: “Vai ficar tudo bem”, mas certa do que dizia.

Irrita-me tudo o que é mau. Más piadas, mau vinho, pessoas más, sentimentos maus, músicas más, filmes maus…

Fico frustrada e isso irrita-me, com o facto de não poder Ser. Ser tudo e não ser nada. As vezes que fossem precisas e sê-lo para quem o merecesse.

Irrita-me saber que perdemos tempo na vida quando ele não nos pertence na totalidade. 

Mas também existem coisas que não me irritam.  Não me irrita tudo é que é bom. Ter tempo para viver tudo, mesmo quando o que se vive é triste, ter a habilidade emocional de transformar os acontecimentos da vida em  experiência, e deles me distanciar.

Oh pudesse eu,

“Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!”

(A eterna Sophia)  


E posso, e posso, eu e todos nós.. "na surpresa dos instantes!", e um dia de cada vez!