segunda-feira, 30 de abril de 2018

FUGIR À MORTE TODOS OS DIAS CANSA – UPS! A ADOLESCÊNCIA TAMBÉM É ISTO!

Leiam com atenção porque só vou escrever isto uma vez.

Tinha acabado de fazer os meus 16 anos e a minha amiga Rita ofereceu-me uma caixa com duas prendas lá dentro. Uma era um bilhete para o concerto de Smashing Pumpkins, e a segunda vinha dentro de outra caixa com a seguinte mensagem: “já tiravas isso, não?”
Vocês não conhecem a Rita, mas ela é super ligada em pormenores. E eu pensei: “pronto é desta que vou ter de deixar de usar as pulseiras de pano”. Abri a segunda caixa, e para minha surpresa descobri um pack de 6 Gillettes. E outro cartão que dizia: “há quem use creme, ou cera, mas no tamanho que os teus estão, a Gillette é menos dolorosa.”
Confesso que fiquei com as lágrimas nos olhos. Ela era mesmo minha amiga!
E, foi nesse momento, que se fez luz. Descobri os pelos.
Descobri algo que sempre tinha estado debaixo do meu nariz, o buço. E debaixo dos braços, os pelos das axilas, e também a alcatifa que cobria as minhas pernas.
E posso dizer que a minha passagem pela adolescência foi menos penosa a partir do momento que os pelos deixaram de acompanhar o meu crescimento.
 (Obrigada Rita!)
Espero que vocês tenham a sorte de ter uma Rita na vossa vida. Isto porque os pais não são muito úteis nesta fase, porque para eles os filhos são os mais lindos e não crescem. E portanto, como bebés que sempre seremos, nunca teremos pelos. Mesmo quando eles se queixam dos pelos que deixamos cair pela casa e também daqueles que ficam presos no ralo da banheira.
E isto leva-me para outros pormenores que caracterizam a adolescência, e que também crescem nesta fase da vida. Por exemplo a curiosidade. Muitas experiências para fazer. A quantidade de cientistas que se revelam. Muita curiosidade para saciar.
 As saídas com amig@s, fumar, beber, namorar, sexo.
Mas vamos com calma, uma coisa de cada vez. Porque há quem faça tudo ao mesmo tempo e depois morra. Vamos, por isso, evitar constrangimentos e aborrecimentos porque só se vive uma vez!
Para se conseguir sobreviver o maior número de dias é bom perceber que, na adolescência, tem que se ser inteligente e resistente.
Passo a explicar.
Lembro-me como se fosse ontem quando tentei fumar pela primeira vez. Ia morrendo. Ninguém me explicou o que significava “travar” e quando me diziam que eu tinha que travar, eu deixava de respirar. Porque, para mim, travar é parar. E por isso eu parava de respirar. Não foi agradável. Talvez por isso, e também pelo seu sabor, o tabaco nunca me fascinou. Eu sei que vão ter que passar por esta experiência, e força, mas sejam inteligentes e não deixem de respirar por motivo nenhum. É isso que andamos a evitar. Alinhados? 
Ainda sobre o tabaco e os cuidados a ter, é importante não deixar nada nos bolsos. Algo que nos possa incriminar. Caso isto aconteça e se forem apanhados a inteligência irá safar-nos porque sabemos que os pais só querem ouvir NÃO É MEU! - “Não é meu, é da Rita. Sabes bem como são os pais dela, não são porreiros como vocês, por isso fui eu que trouxe para casa.”
Mas, muito importante, não recorram a esta desculpa mais do que duas vezes.
Devem ter sempre pastilhas ou rebuçados nos bolsos para alterar o hálito. E quanto ao cheiro da roupa e do cabelo esqueçam, só sai depois de várias lavagens a 60 graus.
Aproveito para esclarecer que no dia a seguir a uma saída não há nada de errado com a nossa voz, e não estranhem a cor do que sai do vosso nariz quando se assoam. Não há necessidade de telefonar para a SAÚDE 24. Consultem este Manual sempre que se esquecerem dos efeitos colaterais das ressacas.
Não é inteligente ir embriagado para as aulas. Não é. E quando descobertos serão denunciados aos pais o que é péssimo para a vida social. Eles perdem a confiança. E acreditem isto é o pior que pode acontecer. Acabam-se as saídas. Chegam os castigos, e os discursos sem-fim sobre a vergonha que caiu sobre a família. Uma desgraça!
Por isso, é muito importante manter as aparências. Ter boas notas! Ser do mesmo clube desportivo que o pai, e dizer todos os dias à mãe que ela é a mais bonita.
Outro pormenor que também aumenta na adolescência é o libido. Como todos sabem (principalmente os adolescentes) não é o sonho que controla a vida, mas sim as hormonas.
E se acham que exagero pensem nas explicações usadas para justificar os comportamentos dos adultos: se são insuportáveis é porque a vida sexual não lhe corre bem. Se estão bem- disposto é porque houve “festa”.
Há quem diga que os homens pensam em sexo 24 horas por dia. É pura mentira, eles também pensam em futebol.
Mas, aqui para nós, não são os homens, são as pessoas, que pensam em sexo. Em bom sexo. E aí é que entramos no busílis da questão. Quem é que tem bom sexo na adolescência? E com tantos adultos a terem mau sexo algo me diz que o problema começa aqui, na adolescência pois claro.
Namorem muito.
Perder a virgindade, meninas, não é bom. Não conheço uma única miúda que me diga que foi uma experiência maravilhosa.
A atrapalhação e a inexperiência não são boas memórias. Nesta fase da vida ainda falta a maturidade para apreciar e prolongar o momento. Assim, e para não chegar à fase adulta a ter mau sexo o melhor é ir com calma.
Contudo, e se se vai começar porque a curiosidade é muita, aqui ficam alguns alertas.  
Vamos por partes e aos poucos porque há sinais que nos revelam que tipo de namorad@ temos à frente. E ele há namorad@s que nos tiram anos de vida.

Namorad@s Shakespeare ou Camilo Castelo Branco
Há algo que nos atrai a quem diz que morre por nós, pelo amor que nos têm. Durante a adolescência ter um namorado que respira o amor que nos tem é, para mim, secante. Temos um mundo de descobertas para fazer.
Mas só podemos achar piada a isto, nesta fase da vida. Fora do contexto da adolescência quem nos fale de morrer por amor é alguém de quem queremos fugir. Mudemos de número de telemóvel, de hábitos e residência. Mais importante mudemos de namorado! 

Namorad@s Jane Austen ou Sophia Mello Breyner
Estamos completamente lixadas se estamos à espera de um Mr. Darcy ou de um amor transformador. Acreditar que isto é possível de acontecer, fora da adolescência, resulta em frustração. Meus caros na adolescência tudo parece possível. Beijar um sapo que afinal era um príncipe pode parecer real, e é mas em séries, romances e filmes.
O melhor é aprender a aceitar os defeitos. Aqueles que são possíveis de aceitar e descobrir o que realmente é importante. Quando se chega a esta idade, há coisas que já não crescem muito mais.  

Namor@dos Fernando Pessoa
Um dia procuram-te. Outro dia ignoram-te. Um dia não te largam, outro dia não querem saber de ti. Um mês depois aparecem com flores. E durante uma semana são o heterónimo mais apaixonado. Na semana seguinte surge o heterónimo cheio de questões e dúvidas. Próxima semana conhecemos o heterónimo agressivo e arrogante. E por aí adiante.
Para quem não gosta da monotonia tem aqui a pessoa ideal para partilhar uma vida, uma semana, ou um mês.
Para que definir quanto, quando e como? Certo?

Namor@dos Marques de Sade ou Oscar Wilde
Prazer garantido?! Loucura para recordar para o resto da vida? Não sei o que vos diga, destes só ouvi histórias. Mas aquelas que ouvi são para mais tarde recordar. Deixarão marcas com certeza e só rezemos que não sejam nem traumáticas, nem físicas.

Namorad@s Woody Allen, Monty Phyton, Eça de Queiroz, Miguel Esteves Cardoso e Ricardo Araújo Pereira.
Os meus favoritos. Não há drama. Existem piadas. Permite-se viver o que acontece sem grandes complicações. O drama serve para fazer as melhores piadas. Os melhores sketches. 
E lá diz a sabedoria popular que o melhor remédio é rir. Abusem destes remédios.


O meu conselho é que aproveitem esta fase pois só se é adolescente uma vez na vida. E por incrível que pareça as coisas a seguir tornam-se ainda mais complexas. E caso se mantenham iguais é porque alguma coisa não está bem.
Tudo a seu tempo, nas descobertas, sem e com juízo. Queremos ser adultos que vivem até aos 100 anos e cheios de conselhos para dar.
Aliás, ninguém quer acabar a cantar Norah Jones “… don't know why I didn't come.”
Eu pelo menos não quero… Mantenham-se por aí!