Tinha acabado de fazer os meus 16 anos e
a minha amiga Rita ofereceu-me uma caixa com duas prendas lá dentro. Uma era um
bilhete para o concerto de Smashing Pumpkins, e a segunda vinha dentro de outra
caixa com a seguinte mensagem: “já tiravas isso, não?”
Vocês não conhecem a Rita, mas ela é super
ligada em pormenores. E eu pensei: “pronto é desta que vou ter de deixar de
usar as pulseiras de pano”. Abri a segunda caixa, e para minha surpresa descobri
um pack de 6 Gillettes. E outro cartão que dizia: “há quem use creme, ou cera,
mas no tamanho que os teus estão, a Gillette é menos dolorosa.”
Confesso que fiquei com as lágrimas nos olhos.
Ela era mesmo minha amiga!
E, foi nesse momento, que se fez luz.
Descobri os pelos.
Descobri algo que sempre tinha estado debaixo
do meu nariz, o buço. E debaixo dos braços, os pelos das axilas, e também a
alcatifa que cobria as minhas pernas.
E posso dizer que a minha passagem pela
adolescência foi menos penosa a partir do momento que os pelos deixaram de
acompanhar o meu crescimento.
(Obrigada Rita!)
Espero que vocês tenham a sorte de ter uma
Rita na vossa vida. Isto porque os pais não são muito úteis nesta fase, porque para
eles os filhos são os mais lindos e não crescem. E portanto, como bebés que sempre
seremos, nunca teremos pelos. Mesmo quando eles se queixam dos pelos que
deixamos cair pela casa e também daqueles que ficam presos no ralo da banheira.
E isto leva-me para outros pormenores que
caracterizam a adolescência, e que também crescem nesta fase da vida. Por
exemplo a curiosidade. Muitas experiências para fazer. A quantidade de
cientistas que se revelam. Muita curiosidade para saciar.
As saídas
com amig@s, fumar, beber, namorar, sexo.
Mas vamos com calma, uma coisa de cada vez.
Porque há quem faça tudo ao mesmo tempo e depois morra. Vamos, por isso, evitar
constrangimentos e aborrecimentos porque só se vive uma vez!
Para se conseguir sobreviver o maior número
de dias é bom perceber que, na adolescência,
tem que se ser inteligente e resistente.
Passo a explicar.
Lembro-me como se fosse ontem quando tentei
fumar pela primeira vez. Ia morrendo. Ninguém me explicou o que significava
“travar” e quando me diziam que eu tinha que travar, eu deixava de respirar.
Porque, para mim, travar é parar. E por isso eu parava de respirar. Não foi
agradável. Talvez por isso, e também pelo seu sabor, o tabaco nunca me fascinou.
Eu sei que vão ter que passar por esta experiência, e força, mas sejam
inteligentes e não deixem de respirar por motivo nenhum. É isso que andamos a
evitar. Alinhados?
Ainda sobre o tabaco e os cuidados a ter, é
importante não deixar nada nos bolsos. Algo que nos possa incriminar. Caso isto
aconteça e se forem apanhados a inteligência irá safar-nos porque sabemos que os
pais só querem ouvir NÃO É MEU!
- “Não é meu, é da Rita. Sabes bem como são os pais dela, não são porreiros
como vocês, por isso fui eu que trouxe para casa.”
Mas, muito importante, não recorram a esta
desculpa mais do que duas vezes.
Devem ter sempre pastilhas ou rebuçados nos
bolsos para alterar o hálito. E quanto ao cheiro da roupa e do cabelo esqueçam,
só sai depois de várias lavagens a 60 graus.
Aproveito para esclarecer que no dia a seguir
a uma saída não há nada de errado com a nossa voz, e não estranhem a cor do que
sai do vosso nariz quando se assoam. Não há necessidade de telefonar para a
SAÚDE 24. Consultem este Manual sempre que se esquecerem dos efeitos colaterais
das ressacas.
Não é inteligente ir embriagado para as
aulas. Não é. E quando descobertos serão denunciados aos pais o que é péssimo
para a vida social. Eles perdem a confiança. E acreditem isto é o pior que pode
acontecer. Acabam-se as saídas. Chegam os castigos, e os discursos sem-fim sobre
a vergonha que caiu sobre a família. Uma desgraça!
Por isso, é muito importante manter as
aparências. Ter boas notas! Ser do mesmo clube desportivo que o pai, e dizer
todos os dias à mãe que ela é a mais bonita.
Outro pormenor que também aumenta na adolescência
é o libido. Como todos sabem (principalmente os adolescentes) não é o sonho que
controla a vida, mas sim as hormonas.
E se acham que exagero pensem nas explicações
usadas para justificar os comportamentos dos adultos: se são insuportáveis é
porque a vida sexual não lhe corre bem. Se estão bem- disposto é porque houve
“festa”.
Há quem diga que os homens pensam em sexo 24
horas por dia. É pura mentira, eles também pensam em futebol.
Mas, aqui para nós, não são os homens, são as
pessoas, que pensam em sexo. Em bom sexo. E aí é que entramos no busílis da
questão. Quem é que tem bom sexo na adolescência? E com tantos adultos a terem
mau sexo algo me diz que o problema começa aqui, na adolescência pois claro.
Namorem muito.
Perder a virgindade, meninas, não é bom. Não
conheço uma única miúda que me diga que foi uma experiência maravilhosa.
A atrapalhação e a inexperiência não são boas
memórias. Nesta fase da vida ainda falta a maturidade para apreciar e prolongar
o momento. Assim, e para não chegar à fase adulta a ter mau sexo o melhor é ir
com calma.
Contudo, e se se vai começar porque a
curiosidade é muita, aqui ficam alguns alertas.
Vamos por partes e aos poucos porque há
sinais que nos revelam que tipo de namorad@ temos à frente. E ele há namorad@s
que nos tiram anos de vida.
Namorad@s Shakespeare ou Camilo Castelo
Branco
Há algo que nos atrai a quem diz que morre
por nós, pelo amor que nos têm. Durante a adolescência ter um namorado que
respira o amor que nos tem é, para mim, secante. Temos um mundo de descobertas
para fazer.
Mas só podemos achar piada a isto, nesta fase
da vida. Fora do contexto da adolescência quem nos fale de morrer por amor é
alguém de quem queremos fugir. Mudemos de número de telemóvel, de hábitos e
residência. Mais importante mudemos de namorado!
Namorad@s Jane Austen ou Sophia Mello Breyner
Estamos completamente lixadas se estamos à
espera de um Mr. Darcy ou de um amor transformador. Acreditar que isto é
possível de acontecer, fora da adolescência, resulta em frustração. Meus caros
na adolescência tudo parece possível. Beijar um sapo que afinal era um príncipe
pode parecer real, e é mas em séries, romances e filmes.
O melhor é aprender a aceitar os defeitos.
Aqueles que são possíveis de aceitar e descobrir o que realmente é importante. Quando
se chega a esta idade, há coisas que já não crescem muito mais.
Namor@dos Fernando Pessoa
Um dia procuram-te. Outro dia ignoram-te. Um
dia não te largam, outro dia não querem saber de ti. Um mês depois aparecem com
flores. E durante uma semana são o heterónimo mais apaixonado. Na semana
seguinte surge o heterónimo cheio de questões e dúvidas. Próxima semana
conhecemos o heterónimo agressivo e arrogante. E por aí adiante.
Para quem não gosta da monotonia tem aqui a
pessoa ideal para partilhar uma vida, uma semana, ou um mês.
Para que definir quanto, quando e como?
Certo?
Namor@dos Marques de Sade ou Oscar Wilde
Prazer garantido?! Loucura para recordar para
o resto da vida? Não sei o que vos diga, destes só ouvi histórias. Mas aquelas
que ouvi são para mais tarde recordar. Deixarão marcas com certeza e só rezemos
que não sejam nem traumáticas, nem físicas.
Namorad@s Woody Allen, Monty Phyton, Eça de
Queiroz, Miguel Esteves Cardoso e Ricardo Araújo Pereira.
Os meus favoritos. Não há drama. Existem
piadas. Permite-se viver o que acontece sem grandes complicações. O drama serve
para fazer as melhores piadas. Os melhores sketches.
E lá diz a sabedoria popular que o melhor
remédio é rir. Abusem destes remédios.
O meu conselho é que aproveitem esta fase pois só se é adolescente uma vez na vida. E por incrível que pareça as
coisas a seguir tornam-se ainda mais complexas. E caso se mantenham iguais é
porque alguma coisa não está bem.
Tudo a seu tempo, nas descobertas, sem e com
juízo. Queremos ser adultos que vivem até aos 100 anos e cheios de conselhos
para dar.
Aliás, ninguém quer acabar a cantar Norah
Jones “… don't know why I didn't come.”
Eu pelo menos não quero… Mantenham-se por aí!