Será que tenho que sair de casa? Começar a
pagar contas que não são rodadas a amigos? Deixar de fazer piadas? Acordar com
um despertador? Falar da actualidade que não envolva futebol? NÃAAAO. Não
queremos!
Ser adulto não é o fim do mundo, mas é o fim
de muita coisa. Apesar disso não é completamente mau porque significa que ainda
não foi desta que batemos as botas.
No geral, os adultos não me assustam, excepto
aqueles que tentam passar-me responsabilidades. Esses assustam-me. E desses
temos que fugir senão corremos o risco de crescer rápido demais.
Mesmo no fim da Secundária eu e a Rita fomos
aconselhadas a ir ao Gabinete de Orientação da Escola. Ainda hoje me pergunto
porque raio nos aconselhariam a fazer tal coisa, já que sempre nos orientámos
tão bem, mas lá fomos.
Estes Gabinetes existem para ajudar os alunos
a pensar sobre o que querem fazer no futuro. Eu e a Rita para o futuro
queríamos o mesmo de sempre, tudo de bom. Bom vinho, bom som, bom tempo, bom
sexo, enfim que tudo o que viesse fosse, no mínimo, bom.
Acabámos por ir ao Gabinete de Orientação,
mas apenas porque pensávamos que se tratava de um Gabinete de Orientação Sexual
e que no fim nos dariam contraceptivos, mas fomos enganadas. Deram-nos uns
testes psicotécnicos para fazer. E com base nas respostas que demos indicaram-nos
a carreira que melhor se adaptava ao nosso perfil.
Todas as pessoas com quem falei receberam o
mesmo resultado, a advocacia, inclusive a Rita. Todos dariam bons advogados. O
que não me surpreende com o país que temos. Mas os meus resultados foram
diferentes. Só conseguiram apurar aquilo que eu não devia fazer, e que era
basicamente tudo. Não tinha jeito para nada.
A Rita lá acabou por ir para a Universidade,
com o argumento: “já viste as festas brutais que se fazem?”. Mas não me
convenceu. E ela também se arrependeu, logo na primeira semana na Universidade.
Os seus primeiros meses no Ensino Superior foram de difícil integração, mas a
partir do momento em que os tipos que ela espancou, porque a quiseram praxar, saíram
dos Cuidados Intensivos tornou-se mais fácil a sua integração. Lá começou por
voltar a ser popular, a ser convidada para ir a festas e arraiais. Só muito
tempo depois voltou a bater, numa tipa. E em defesa da Rita a tipa estava a
pedi-las, convidou-a para entrar para a tuna. A Rita é uma pessoa muito
sensível e com pouca tolerância para palhaçadas.
Comigo as coisas foram diferentes, eu fui
estagiar para um sítio com horários fixxes. E posso vos dizer que desse tempo
tirei dois grandes ensinamentos para a vida: o primeiro é que podemos chamar
tudo aos nossos chefes, desde que eles não nos ouçam; e o segundo é que se
formos agarradas pelo nosso chefe, temos que ter as mãos soltas e ser ágeis
para rapidamente baixar a cara e colocar os braços à frente. É neste momento
muito importante que recordemos o sábio conselho: CORRE! E também que saibamos gritar.
O dia seguinte é sempre melhor, ou não, mas
pelo menos já não seremos apanhadas de surpresa.
Há ainda quem comece a trabalhar de imediato
por que sim e porque não havia outra opção. E existem ainda aqueles que acabam
por falecer, neste impasse.
Ser adulto não é fácil, mas nada é fácil. Na
realidade dá trabalho estar sóbrio 8 horas por dia, acordar com o toque de um
despertador, vestir roupa sem nódoas e sem estar amarrotadas, não adormecer nos
transportes, e aprender a sorrir mesmo quando sabemos que nos estão a lixar.
E mesmo quando fazemos estes sacrifícios
todos, ainda assim haverão adultos a questionar as nossas decisões. Idiotas! E
de um momento para o outro, tu queres aproveitar a vida, mas já te estão a
empurrar para um modelo de vida que te causa urticaria só de pensar.
E é nesse momento que tens que decidir que
farás aquilo que te apetecer com a tua vida. E este manual vai preparar-te para
sobreviveres a esta fase da vida.
Vou recorrer à arte de outros, e que dizem
que é a sétima, porque parece que há mais seis atrás. Há pessoas com muito
tempo. Então aqui vão os ensinamentos para sobreviver à “adultice”.
1. Dirty Dancing
Este filme passa-se num campo de férias,
frequentado por famílias, e onde existem atividades organizadas para as famílias.
Graças a Deus que o Patrick Swayze também estava por lá, mas com outro nome, e
também tinha ofertas de lazer para oferecer, de dança. E como é sabido o quão é
difícil é encontrar homens que dancem bem, foi fácil para o mulherio daquele
campo apaixonar-se por ele. A parte que sempre foi difícil foi a parte do
salto.
Chegando a esta fase da vida queremos passar
férias longe dos pais, mas este filme revela-nos o outro lado da moeda, se os
nossos pais nos quiserem levar nas suas férias vamos a isso. Viajar nas
condições que os nossos pais viajam é de aproveitar, não temos que nos
preocupar nem com comida, nem com a roupa. Não vai ser uma seca se nos focarmos
no grande objectivo: arranjar “um Patrick Swayze para as férias”.
E meus amigos para afastar a morte é bom que não
aceitem para par quem não vos fizer levantar um pé do chão, pelo menos um dos
pés.
2. The Hangover / Bridesmaids
Estes dois filmes são sobre despedidas de solteiros
e os amigos que se convidam, ou organizam a despedida de solteir@. Com sorte
não existem intoxicações alimentares, nem mortes, mas a ideia de trabalhar para
conseguir uns trocos para estourar em Las Vegas, Amesterdão, Bangkok ou noutra
parte do mundo, com os nossos amigos, é um bom objetivo. E o motivo não precisa
ser uma despedida de solteiro, pode ser porque alguém se separou ou foi
despedido, ou alguém morreu, ou tudo junto, o importante é ter dinheiro e
amigos para viajar. Mas é necessário ter algumas precauções até porque existem
muitas doenças contagiosas que não é conveniente trazer como souvenir. Ninguém
quer ser preso, nem morrer. O objetivo é trabalhar para a criação de memórias e
para as criar temos que nos lembrar delas por isso está fora de questão ser
atropelado, cair de uma janela ou entrar em coma.
3. The Last Kiss
Resumidamente é preciso ter cuidado com miúdas
baixas e morenas, e também com amigos que não sabem mentir por nós. É muito
triste não poder contar com as pessoas nos momentos que mais se precisa.
A grande lição que se tira neste filme é que
podemos enganar, fugir, esconder, querer, ou deixar de querer, ou até assustarmos-nos,
mas o que marca a diferença entre o ser adulto e o não ser, é que será a partir
deste momento que seremos nós que temos que resolver as situações que criamos.
E ninguém vai morrer de medo por isso, ok? Morrer de medo está fora de questão!
4. The Garden State
É talvez o meu preferido destes todos. É sobre
a perda. Alguém que não conseguiu rasteirar a morte e acabou por ser apanhada,
talvez porque a falecida vivia presa numa cadeira de rodas, e não é muito fácil
correr enquanto se está presa.
É também sobre a frustração, a solidão e a
arrogância, e sobre a simplicidade de viver. Viver e sentir. Sentir que se está
vivo, mas principalmente sentir as pernas e correr para longe, sempre que a
morte se aproximar.
5. Anything Else
Porque as relações humanas vistas pelos olhos
do Woody Allen são perturbadoramente divertidas. Na sua loucura, no inesperado
e também na importância da experiência, dos conselhos. Mas talvez o mais sábio
seja acreditar que a maior parte das vezes que as coisas não dão certo é porque
ainda não chegou o seu tempo. E isso é, só por si, o engodo para continuar a
querer viver, somente para presenciar o momento certo!
6. American Pie
Já perdi a conta em que número vai, mas fico
só pelo primeiro destes filmes. Uma tarte nunca mais será uma tarte. Ser finalista
será sempre um desafio, mas pode ser um desafio com muita piada. E ao qual sobreviveremos,
e alertas. Iremos amar a ausência do nosso pai e nunca, e de forma alguma, deixaremos
a nossa mãe sozinha com um colega que a considere uma “Milf”.
7. Misery
Porque sim! E também porque é um dos melhores
thrillers que assisti. E acho que nenhum adulto deveria morrer sem ver este
filme. A acrescentar a este motivo, o facto de no fim da primeira e da segunda
temporada do Game of Thrones ter vontade de ser a “Annie”, do filme Misery, e
cuidar da saúde dos seus produtores.
Espero que tenham percebido que dêem as
voltas que dêem se continuam vivos, é impossível não passar por estas fases.
Com mais ou menos responsabilidades, mais ou menos álcool no sangue, mais ou
menos doenças ou problemas. Tenho dicas para fugir à morte, mas ainda não tenho
para parar o tempo e olhem que já parti alguns relógios só para experimentar e
a única coisa que aconteceu foi chegar atrasada porque não sabia a que horas andava
e ainda tive que apanhar os cacos do chão.
Fiquem por aí, e entretanto se a morte vos bater à porta não abram! Depois não digam que não vos avisei!