Esta é aquela fase da
vida em que os filhos continuam a crescer em tamanho, em peso, e nos disparates.
Esta também é aquela fase
da vida que os adultos têm menos paciência para MERDAS, mas como não querem
esticar já o pernil puxam o autoclismo, mental ou verbalmente.
Esta fase coincide com a
abertura do baú “de desejos falhados ou por concretizar”. Momento em que pensamos
que agora sim, agora é que vamos fazer AQUELE curso, aprender a tocar um instrumento,
aprender a cantar, tirar a carta de condução, ou ainda uma formação para atores
amadores, no meu caso é a altura para fazer um curso de sapateado.
É também, neste momento
da vida, que pensamos que agora já podemos fazer AQUELA viagem, sozinha, com
amig@s, ou a dois, porque os filhos já não querem fazer férias connosco. CERTO?
ERRADO!
Quando a prole ouve que é
uma viagem à Patagónia não só nos DIZEM que nos vão acompanhar como também nos
INFORMAM que já convidaram @s vadi@s d@s namorad@s para irem connosco… e
descobrimos rapidamente que o aumento de pessoas no pacote turístico afinal só
nos permite ir de férias até à Isla Cristina.
Pensamos também que vamos
conseguir descansar mais porque eles já têm chave de casa e podem entrar e sair
sem nos incomodar… mas os transportes estão caríssimos e se gastam no táxi não
podem comprar álcool, e assim DECIDEM que o melhor é acordar um dos
progenitores para proceder à recolha e distribuição da “carga”.
É também nesta fase que
resolvemos que vamos sair mais, fazer jantares com amigos, saídas pela
madrugada afora, cinema, teatro, passeios, passar tempo com os nossos amigos… e
quando pegamos no telemóvel descobrimos que alguns dos nossos amigos ou mudaram
de vida, ou de país, ou de casa, ou de sexo, ou padecem de alguma maleita e ainda outros deixaram-se apanhar pela figura da ceifa na mão!
Não sei se se recordam da
Rita, mas a Rita para além de porreira é uma inspiração. Uma das grandes virtudes
que caracteriza a Rita, é a sua insensibilidade para merdas, não tem feitio
para isso. Aliás nunca teve!
Há uns tempos atrás
ligou-me e disse: “Temos que ajudar a J. Temos que sair com ela e animá-la porque
o estupor do G. pediu-lhe um tempo. Eu dava-lhe com o tempo, e com tudo o que
tivesse à mão, naquela careca. Sabes bem que nunca o suportei!”
Respondi “Claro que sim
Rita, aliás sei eu e todos os convidados do casamento deles, onde gritaste: ó
tiras a mão daí ou parto-te o braço! Ainda hoje se comenta isso!”
No fim do telefonema fiquei
contente com a sua preocupação com a J.. Sempre ouvi que “ser mãe” torna as
mulheres mais sensíveis e senti que a Rita estava nesse ponto, naquele de ouvir
uma amiga que precisava de desabafar.
Combinamos fazer uma peregrinação
pelo Bairro Alto, de tasca em tasca, porque precisávamos de recuperar a nossa
fé. Eu cheguei com a J. e a Rita chegou mais tarde, mas ainda a tempo de apanhar
a J. a chorar. A Rita pediu duas imperiais e bebeu-as uma atrás da outra.
Perguntou se já tínhamos pedido alguma coisa e tratou de pedir por nós e de
manter a mesa sempre cheia de álcool. E dizia para a J. “podes contar sempre comigo
para te encher o copo” e assim o fez durante toda a noite. Às páginas tantas
perguntei-lhe “Rita não queres ouvir o que ela tem para dizer? Não foi por isso
que viemos?”
A Rita disse: “ Não, nós
viemos porque esta é a desculpa perfeita para sair de casa e deixar os 4 putos
com o pai. E o pai não pode contestar porque eu tenho o argumento certo do meu
lado: “Olha o que ele lhe fez? Os homens não valem nada. Ficas a dever-me uma. E
ai de ti que venhas com essa do “preciso de um tempo!”
As separações acontecem e
por diferentes razões. Umas porque mudam de tendência sexual, outras porque se apaixonaram
por outras pessoas, outras porque se apaixonaram por si e descobriram que
merecem mais na vida, outras que começaram a cultivar um enorme apreço por
sossego, e acrescentar a isto tudo a má qualidade dos jogos de futebol que em
nada contribuem para alegrar o seio familiar.
Descobrimos que existem
pessoas que não estão bem com a vida que têm e gostam de desportos radicais por
isso arranjam namorad@s consideravelmente mais nov@s. Porque dizem ser men@s
chat@s, são mais compreensiv@s e não procuram defeitos. E depois surge o dia em
que começam a viver juntos e que por vergonha escondem como foram intrujad@s. E
com os segundos casamentos vêm os segundos filhos. E aquela paz que havia cada
quinzena com a guarda partilhada desaparece. Todos os fins-de-semana são
fim-de-semana com crianças, volta tudo ao mesmo, mas com mais crianças e mais
anos em cima. Menos cabelo, menos audição, menos dentes, menos visão, e menor
desempenho.
E fazer uma árvore genológica
com esta miscelânea de relações? Dá uma tese de doutoramento!
Sempre que saímos com
amigos, e que os nossos amigos diziam: “agora comecei a correr” ou “agora
inscrevi-me no ginásio” a Rita respondia: “então? andas a fugir do quê?” “O
clima lá em casa está pesado?” ou “andas a malhar? Ou andam a malhar em ti?” Ficava
um ambiente super-pesado com as insinuações que ela fazia que só se dissipava
após a terceira imperial.
Um dia a Rita liga-me e
diz: “adivinha o que eu descobri no bolso do B.?”
Eu: Droga?
Rita: “Também, aliás
fumei e agora estou à espera que ele chegue a casa.”
Eu: Pedido de adesão para
membro do Partido Social Teocrata?
Rita: Pior!
Eu: Um cartão de
aficionado de tauromaquia.
Rita: Não chegas lá… pior
do que isso! Um Cartão do Holmes Place. Acreditas que ele anda no Ginásio?
Tentei tranquilizar a Rita,
a situação era grave e disse: “Deve haver uma explicação!”
No dia seguinte a Rita
liga-me e diz: “Não passou de um susto, afinal o cartão não é dele, é de um
amigo”
E este foi um assunto que
nunca mais revisitámos!
Nesta fase da vida em que
preferimos o mate ao brilho, precisamos de ter um ou vários médicos, começamos
a responder “sim” às perguntas “toma alguma medicação?” e também ao “queixa-se
de alguma coisa?”.
E quando nos fazem esta
pergunta não querem saber se nos queixamos dos companheiros, dos filhos ou dos
vizinhos, é mesmo se dormimos bem, se os pés nos incham… entre tantas outras
coisas…
As conversas deixam de
ser sobre os filhos (porque estes nos proibiram de falar deles), passam a ser
sobre o estado de saúde dos nossos pais e das nossas enfermidades.
Mas importa falar, não
importa do que, desde que continuemos a falar é sinal que continuamos a seguir
o plano de nos mantermos em fuga.
Nesta fase da vida, os
adultos assustam-se… com a contagem dos “entas”, e depois começam a repetir em
voz alta que nunca gostaram tanto de si como acontece nesta fase da sua vida.
E por gostarem tanto de
si começam por consultar cirurgiões plásticos, contratar um personal trainer
(PT), fazer viagens de interiorização espiritual, organizar grupos de treino ou
de caminhadas e tudo para fugirem aos que o realmente os assusta. (Nos assusta!)
A proximidade vocês sabem do quê…
Fascina-nos a juventude e
vamos nos movendo de forma a passarmos por mais novos, aliás há quem comece a
escrever manuais de ajuda!
Cada um passa por esta
fase de formas diferentes. Uns agarram-se ao que têm, outros procuram por algo
que os realize, e como diz a música não são os únicos.
Importante é ter bem vigiada
a visão, e para isso serve um bom oftalmologista. Sim é importante ter a saúde
vigiada por bons profissionais, mas o mais importante na vida, aquilo que nos
dá saúde, é mantermos por perto as melhores pessoas que conhecemos. E mantermos
distantes todas aquelas que nos deixam doentes.
Necessitamos de bons
profissionais para cuidarem da nossa saúde e da nossa aparência, mas precisamos
muito mais das pessoas que nos alimentam a alma.
Nesta fase da vida já
aprendemos o quão importante é ter uma postura correta, e começamos a andar
direitas. Já não deixamos que muitas coisas nos verguem.
Tentamos andar com a
cabeça levantada e costas direitas a maior parte do tempo, e tão direitos que andamos que não vemos a
enorme a poia que estava mesmo à frente, e bastava termos olhado para baixo.
E é isto mesmo, por
melhor que pareça já sabemos que o melhor é aproveitar o momento porque em
breve ou iremos pisar, ou irá chover, porcaria.
Mas estamos vivos!