quinta-feira, 4 de abril de 2024

Fugir à morte, todos os dias, cansa. | MANUAL II | Capítulo VI – Sobreviver ao mundo do trabalho.

Quase todos nós, comuns humanos, temos de trabalhar, eventualmente até aqueles que têm um projeto de vida. 

É uma coisa que se impõe, ou porque os pais nos chateiam ou porque a sociedade assim o deseja, a pressão é enorme para nos fazer sair da cama. 

A pressão aumenta, senão ganhamos um prémio chorudo, ou se não tivermos a sorte de herdar uma fortuna ou nascer milionário.   

Há quem fique muito chateado porque existem pessoas que não gostam de trabalhar (PQNGDT), irritam-se porque as PQNGDT precisam de dinheiro para tabaco ou para outros prazeres da vida.

Digam-me qual é o mal desta honestidade? Não querem roubar, só querem uma mesada dos pais ou do Estado. Onde está o problema? 

Trabalhem aqueles que não se importam e/ou até gostam. 

E é para esses, os que apreciam o trabalho, que este capítulo serve, para os proteger. Desenganem-se o trabalho não dá saúde, nem riqueza, no fim acho que dá alguma dignidade, mas lá está, depende do tipo de trabalho que tens. 

Vamos, então, começar pelo início, por Procurar emprego.

Pode-se começar pelo Centro de Emprego, diz-se por aí, que é onde se procura emprego e formação. Esta é uma hipótese. 

Mas existem outras, como por exemplo anúncios em jornais ou em portais de emprego. 

Contudo, o formato que parece reunir consenso e 100% da eficácia e da eficiência é aquele que encontra alguém que lhe diz: "Vais falar com o Y e diz que vais da minha parte".

Este método é infalível, por isso, vejam se fazem alguma coisa de jeito na vossa vida e arranjam um amigos destes. 

Depois desta fase, vem a conversa de emprego, vulgarmente conhecida como Entrevista de emprego. Partilho uma lista de coisas que não deves fazer, caso queiras o emprego: 

- Não usar o telemóvel, este só deve ser consultado em caso de urgência e o entrevistador deve ser informado dessa possibilidade. 

Aqui, sinto que precisamos definir o que é uma urgência: Morte de alguém (muito) próximo; pagar o estacionamento porque a EMEL não perdoa; ler a mensagem que confirma que fomos aceites no emprego que realmente queríamos; 

- Não fazer barulhos com o corpo, se é que me entendem;

- Não mostrem fotos dos vossos animais de estimação; 

- Não refiram os ataques de pânico, tentativas de suicidio e a depressão prolongada; 

- Não comam alho nem cebola, antes da entrevista e muito menos durante; 

- Tomem banho;

- Antes da entrevista, evitem espaços com cheiro de fritos, é um raio de um cheiro que se entranha pela roupa e cabelo e que leva a náuseas e a vómitos o que pode interferir nos resultados da entrevista. 

Por último, mas muito importante, - Não levem os vossos pais e/ou o namorado para a entrevista. 

Não é porque seja ridículo, ou porque, eventualmente, podem passar a mensagem de insegurança, de dependência emocional e/ ou de imaturidade, mas sim porque a entidade empregadora pode pensar, que se vos contratar, terá ao dispor uma equipa, uma inesgotável fonte de recursos, por um único ordenado. Isso é defraudar expectativas! Sou contra isso!

Em suma, sejam minimamente razoáveis, uma entrevista demora 15 minutos no máximo, não custa assim tanto, podem esforçar-se para responder a um padrão de normalidade. 

Quando conseguires passar esta fase e tiveres, finalmente, o teu trabalho/emprego existem outros conselhos a que deves estar atento, para não sucumbir de imediato.  

Os três primeiros meses, num Emprego, é semelhante ao tempo que passas num campo de minas ou a cumprir o Serviço Militar Obrigatório, por isso é importante fazer a recruta adequadamente apetrechad@.

Toma nota destes conselhos: 

- Observa e escuta muito bem, fala pouco, precisas de reconhecer o território antes de pousar os pés, podes estar a pisar território inimigo ou minado. 

- Respira fundo e em silêncio, não deixes que percebam alguma fraqueza ou falta de paciência. Por exemplo a estupidez e a esperteza saloia irritam-me, tive de aprender a lidar com elas em silêncio, sem álcool, sem recorrer a asneiras e sem violência; 

- Se pensas usar a WC para o número 2, verifica, desde logo, se o local disponibiliza um ambientador, senão garante que tens um contigo; 

- Não comas de boca aberta;

- Não deixes que te tratem usando o diminutivo do teu nome

- Não te masturbes no trabalho, mas se o fizeres garante que ninguém descobre, ah e deixa tudo limpo!

- Não te envolvas se ganhas menos de 3 000€, limpos, por mês; 

- Não comas em cima do teclado ou à frente do monitor, odeio teclados e monitores sujos e especialmente de comida, é repugnante, só é concebível se fores cego ou tiveres baixa visão e ainda assim.…; 

- Não penses que vais fazer amigos, aqueles que encontrares já têm a sua vida, no início são desconhecidos e, em princípio, inimigos, assim poderás evitar dissabores; 

- Baixa as expectativas, o melhor é não ter qualquer expectativa; assim não sais defraudado; 

- Prepara-te para ambientes de trabalho com pessoas medíocres, falsas, malformadas, preguiçosas e perversas; 

- Desconfia se nas primeiras semanas não te derem trabalho, desconfia ainda mais se te derem demasiado trabalho; 

- Respeita, escuta a sabedoria popular, "onde se ganha o pão não se come a carne", nada de positivo resultará daí...mas se tens de fazê-lo é razoável que consideres qual vale a pena manter: se o sexo ou se o emprego. 

- Não fiques num lugar, onde se passam pelo menos 8 horas por dia, se não acreditas no que fazes; 

- Tens de arranjar, pelo menos, dois bons colegas de trabalho, para garantir a saúde mental, para acautelar que não estarás sozinha quando um deles faltar; 

- Por último, mas muito importante, não sejas tu o filho da p%t@ do trabalho. 

Não baixes os braços, só o deves fazer se não depilares as axilas ou se estas cheirarem mal. O primeiro emprego pode correr mal e talvez outros também, mas mantém-te fiel aos teus valores e foge de sítios onde não: aprendes, és valorizad@ e não te sentes realizad@. 

Comigo nunca aconteceu, mas a minha amiga Rita contou-me histórias de empresas que oferecem bons empregos, bom ambiente entre colegas, chefes inspiradores e ordenados compatíveis com a exigência e, ainda, atribuem prémios. No caso dela, acontece muito ter de sair desses sítios porque o ambiente entre colegas é mesmo muito bom e ela prefere o sexo ao emprego. 

Em conclusão, como tudo na vida, também é possível sobreviver ao mundo do trabalho, com as corretas expectativas e as ferramentas adequadas.Por isso, toca ir à procura desses sítios onde a única coisa que custa é, mesmo, sair da cama!

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Fugir à morte, todos os dias, cansa | MANUAL II | Capítulo V – Sobreviver ao Natal!

O Natal, o Natal, ó pá que bonito que é o Natal.

Tudo cheio de neve e lareiras. As pessoas bem vestidas, o cheiro de comida e a Mariah Carey a cantar por todo o lado.

Ah, espera, mas e se vives em Loulé? 

Mas e se não há neve?

E se as pessoas se vestem e cheiram mal?

E se estiver muito frio? 

É um horror, por favor, tirem-nos desse Natal. 

Confesso que há coisas de que gosto, nesta época, tipo os doces. Porém, só de imaginar as filas para comprá-los, fico com azia. 

Defendo que deveria haver marcação prévia, devia ser possível fazer um agendamento, como acontece para tratar da renovação do cartão de cidadão. 

 Não têm de agradecer! Estou cá, e também, é para isso! 

No Natal também gosto das iluminações, as lojas e as ruas, os mercados e as vilas Natal, a animação nas ruas, Mariah Carey e os Wham a tocar por todo lado. Contudo, alguém inventou para esta altura o jantar/ almoço de Natal da Empresa. Gosto muito de almoçar e jantar, mas não com as pessoas da empresa. Quer dizer, convenhamos, basta o dia-a-dia na empresa e as horas extraordinárias.

A minha sugestão para todas as entidades patronais do mundo que gostam de organizar "eventos especiais de Natal" é: preocupem-se preocupem com as necessidades dos vossos colaboradores e deixem-se de tretas. Há dinheiro, deem prémios, não há dinheiro, dêem-lhes tempo e não sejam uns FDP durante o ano. 

DE NADA! Estou cá e também é para isso! 

Depois há uma lista de marcos que acontecem no Natal, listas de compras, tradições, ceia de Natal, almoço de Natal, família e aquelesquedizemquetambémsãofamíliaequeparecemalnãoconvidar, sim esses. Há sempre um, ou vários, certo? 

É por causa das obrigações do Natal que resolvi partilhar convosco alguns conselhos para sobreviver a esta quadra festiva. 

DE NADA! Estou cá e também é para isso! 

1. Como evitar comer couves? 

Grau Fácil. 

Nas duas semanas que antecedem esta época informem, "a organização do evento", que descobriram que são intolerantes a couves. Agradeçam, mas não podem comer porque senão vão ter de ir para casa porque vão ficar com um desarranjo intestinal muito fedorento, que poderá colocar em risco a noite branca. 

 2. Como evitar que as refeições sejam na vossa casa? 

Grau Fácil. 

Um mês antes do evento informam, a quem de direito, que houve um enorme incêndio na vossa cozinha, que estão à espera de que o Seguro resolva a situação. Serão compreensivos, pois todos sabem como as Companhias de Seguro demoram a resolver o que quer que seja…

 3. Como adiar, interminavelmente, que o Natal se passe na nossa casa? 

Grau Médio. 

Porque é que preciso muita lata. Quando a pergunta surgir, aguenta, não respires, estás distraído com outra situação. Faz-te esquecido e deixa que alguém avance. Há sempre alguém que gosta de receber. 

 4. Como parar de ouvir Mariah Carey e WHAM? 

Grau Difícil. 

Só está na nossa mão quando formos nós os responsáveis pela música, basicamente na nossa casa, na rua ou noutras casas por favor protejam-se.

Sugestões: Andar munido com fones e com uma boa playlist.

Podem, sempre, pedir para passar para a música seguinte, mas vais ter de aguentar. Simultaneamente, reza, fervorosamente e sempre para que surja um novo hit de Natal. 

 5. Como não comer bacalhau ou polvo? 

Grau Difícil. 

Se fores tu a cozinhar podes fazer o que te apetece e se te confrontarem com a questão, arranja cúmplices para uma solução que não te exponha. Tu e os teus cúmplices devem criar uma doença mental. As pessoas tendem a respeitar os maluquinhos. Estás com um   esgotamento nervoso, e qualquer contrariedade conduzir-te-á a um surto extremo que pode levar à violência. Para dar credibilidade a este diagnóstico, inventem histórias que envolva a polícia e os bombeiros, revelem marcas e se possível choraminguem.

6. Como esquecer de convidar aquelesquedizemquetambémsãofamíliaequeparecemalnãoconvidar? 

Grau Extremamente Difícil. 

O esquecimento não depende de ti, pode haver alguém que se lembra de convidar, por pena, por qualquer coisa, talvez por culpa ou por empatia ou porque é parvo. O que aconselho é que simplesmente cumprimentes a pessoa e que não voltes a trocar uma palavra, um olhar, uma travessa. Nada. Que passes o evento em meditação profunda, mas de olhos abertos. 

 

Estava a elaborar esta lista, enquanto esperava pela minha amiga Rita e antes de a terminar a Rita chegou. Ela perguntou: "O que é que estás a escrever, croma?"

E eu aproveitei para lhe pedir a opinião, li-lhe o que tinha escrito. A Rita pediu dois gins, bebeu um como se este fosse um shot. Percebi que a tinha irritado.  

Quando acabou de beber o gin, olhou para mim e perguntou: "Já sabes como é que se sobrevive ao Natal?"

Ao que respondi: "Rita, não posso ficar doente, todos os anos, nem dizer que vou viajar."

A Rita bebeu o segundo gin, num ápice e gritou: "EMBRIAGADA!!!"

 Não apaguei o que tinha escrito porque me deu trabalho e para verem que ainda estou a aprender, mas a única forma de ficar imune à estupidez e mesquinhez alheia, a única forma de sobreviver ao Natal, é estando alcoolizada! Desde que haja álcool para desinfetar e uma amiga, para te lembrar disso, estás protegida. 

DE NADA! Estou cá e também é para isso! 

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Fugir à morte, todos os dias, cansa | MANUAL II | Capítulo IV - Sobreviver à bondade.

Não sei se vos acontece, mas sempre me foi difícil zangar com as pessoas boazinhas, no entanto tal não é impossível. 
E como é que sei isto? Aprendi da melhor forma, à bruta e por repetição.

Sou teimosa e gosto de apanhar, pelo menos é o que a Rita me grita várias vezes para dentro do ouvido, acordando toda a parte do meu cérebro que hibernava, e que acorda para a vida em sobressalto.

A primeira vez, que verifiquei que ser boazinha não nos leva a lado nenhum, foi quando, numa estação do metro, vi um invisual passar por mim, em direção a umas escadas, o que me deixou em estado de alerta. Antecipei a sua incapacidade para subir os degraus e armei-me em boazinha. Agarrei o seu braço para o auxiliar, ele de imediato começou a berrar comigo, para o largar.

Foi uma cena muito triste, da qual saí enxovalhada. O que me levou a decidir NUNCA AGARRAR UM DESCONHECIDO.
 
Quando contei isto à Rita, ela foi implacável e sábia, alertou-me de imediato: 
-  “tu é que sabes o que é que queres para tua miserável vida, porque tenho agarrado bastantes desconhecidos e tenho me safado muito bem!”

Isto levou-me a recuar no tempo, e a recuperar as memórias da infância. Afinal, desde muito cedo, sabia que isto de ser boa pessoa tem muito que se lhe diga. Só não sabia o que fazer com essa informação. Será que alguém por aí teve uma experiência semelhante à minha? Com as vizinhas do bairro? Aquelas senhoras que gostam muito de nós,e até nos dão doces, ou bonecas, mas que também gostam muito de se meter na vida dos outros, e que nos iludem com aqueles mimos… Até ao derradeiro momento em que descobrimos que são elas que vão fazer queixinhas aos nossos pais. Que a razão pela qual apanhamos é porque elas têm a bondade de se meter onde não são chamadas. Aquelas ofertas estão envenenadas pelo seu remorso/culpa. Este era um tipo de bondade que dispensávamos bem.
Quando partilhei com a Rita sobre esta recente epifania, pedi-lhe que me fizesse um teste para saber se tinha curado a minha bondadeblindness.
Ela adorou a ideia, estava preparadíssima para aquele momento, diria que desde que nassceu, estava estranhamente feliz...
Começou por perguntar por um ex-namorado: 
- “Olha lá, lembras-te do Pedro Mendes? E do que ele te disse quando terminou?”
- “Sim, claro. Ele foi um querido, disse que eu merecia melhor, que estava num momento que não podia dar-me tudo o que eu merecia e que sabia que havia alguém merecedor à minha espera. Apesar de lhe custar muito, e estava certo de que se iria arrepender, mas tinha de me libertar para que eu pudesse encontrar essa pessoa."

A Rita, enquanto ria à gargalhada, perguntou-me: 
- “Pensaste mais alguma vez nessa conversa?”
E eu respondi que sim. Ao que ela acrescentou: - “Pensaste em quê?”
E eu disse
- “No óbvio, quantas vezes ele já se tinha arrependido!!!

Ela não conseguia parar de rir, sempre soube que eu tinha acreditado naquela conversa de treta, mesmo depois de , um dia depois, o ter encontrado com a Ana Paula do 12º B.

Como vocês sabem a Rita "está lá" desde os primórdios, e por isso conseguiu recuperar imensos episódios. Histórias de ex-namorados, de professores que deram uma negativa porque achavam que podia fazer melhor, de amigos e familiares que pediam para não reclamar porque era boazinha, de chefes que não melhoraram a situação no trabalho, porque isso poderia causar inveja, enfim uma lista de atos bondosos tóxicos. 

E a Rita, que sempre me chamou de inocente questionou, novamente, se eu estaria curada, e preparada para ver as coisas como elas realmente são.
E foi nesse momento que tomei consciência que a doença não é a minha bondade, mas sim a eterna crença na justiça da bondade.  Assim, vejo nesta revelação um desígnio que é preparar-vos para sobreviver à bondade(zinha).

Estejam atentos!

Primeiro, se és uma boa pessoa e caminhas para ser o próximo mártir, também conhecido, por Jesus Cristo, verifica se tens o poder da ressurreição porque senão vais morrer e é para sempre.

Segundo, se os falsos positivos não te incomodam a tua sobrevivência está assegurada não há como chegar a ti. 

Terceiro, e o mais importante, é que a sobrevivência depende do próprio, e esta partilha é transversal a tudo na vida, estar atento e ser rápido são ações fundamentais.

Lembram-se da história do Lobo mau? Sabem porque é que ele morre sempre?
Porque é mau? Não. 
Porque acredita na bondade do Capuchinho Vermelho, dos porquinhos, e dos cabritinhos e de todos os outros bonzinhos e baixa as suas defesas, desligou o seu instinto.

Em todas as histórias, a lição é sempre a mesma.

Eu dizia que a lição é que o bem triunfa sobre o mal, mas a Rita sempre disse que a lição é: “não te fies”.

Não está em causa quem tem razão, mas a conclusão é sempre a mesma, tens de ser rápido. Precisas de continuar a correr e a fugir, caso contrário FOSTE!

E se pensas que não aprendeste nada sobre a bondade, vou deixar outra dica, com a bondade dos anos que passam, por todos nós, além de precisares de estar em forma para continuar a correr, também é necessário que escutes e vejas bem, senão morres porque não viste a linha, nem o comboio, nem a trave, nem a perna estendida que te vai rasteirar. 

Lembra-te que se é para sucumbir, fá-lo em grande, com dignidade, com uma boa razão para constar no obituário, senão e  até lá, mantém-te vivo!