E como é que sei isto? Aprendi da melhor forma, à bruta e por repetição.
Sou teimosa e gosto de apanhar, pelo menos é o que a Rita me grita várias vezes para dentro do ouvido, acordando toda a parte do meu cérebro que hibernava, e que acorda para a vida em sobressalto.
A primeira vez, que verifiquei que ser boazinha não nos leva a lado nenhum, foi quando, numa estação do metro, vi um invisual passar por mim, em direção a umas escadas, o que me deixou em estado de alerta. Antecipei a sua incapacidade para subir os degraus e armei-me em boazinha. Agarrei o seu braço para o auxiliar, ele de imediato começou a berrar comigo, para o largar.
Foi uma cena muito triste, da qual saí enxovalhada. O que me levou a decidir NUNCA AGARRAR UM DESCONHECIDO.
Quando contei isto à Rita, ela foi implacável e sábia, alertou-me de imediato:
- “tu é que sabes o que é que queres para tua miserável vida, porque tenho agarrado bastantes desconhecidos e tenho me safado muito bem!”
Isto levou-me a recuar no tempo, e a recuperar as memórias da infância. Afinal, desde muito cedo, sabia que isto de ser boa pessoa tem muito que se lhe diga. Só não sabia o que fazer com essa informação. Será que alguém por aí teve uma experiência semelhante à minha? Com as vizinhas do bairro? Aquelas senhoras que gostam muito de nós,e até nos dão doces, ou bonecas, mas que também gostam muito de se meter na vida dos outros, e que nos iludem com aqueles mimos… Até ao derradeiro momento em que descobrimos que são elas que vão fazer queixinhas aos nossos pais. Que a razão pela qual apanhamos é porque elas têm a bondade de se meter onde não são chamadas. Aquelas ofertas estão envenenadas pelo seu remorso/culpa. Este era um tipo de bondade que dispensávamos bem.
Quando partilhei com a Rita sobre esta recente epifania, pedi-lhe que me fizesse um teste para saber se tinha curado a minha bondadeblindness.
Quando partilhei com a Rita sobre esta recente epifania, pedi-lhe que me fizesse um teste para saber se tinha curado a minha bondadeblindness.
Ela adorou a ideia, estava preparadíssima para aquele momento, diria que desde que nassceu, estava estranhamente feliz...
Começou por perguntar por um ex-namorado:
Começou por perguntar por um ex-namorado:
- “Olha lá, lembras-te do Pedro Mendes? E do que ele te disse quando terminou?”
- “Sim, claro. Ele foi um querido, disse que eu merecia melhor, que estava num momento que não podia dar-me tudo o que eu merecia e que sabia que havia alguém merecedor à minha espera. Apesar de lhe custar muito, e estava certo de que se iria arrepender, mas tinha de me libertar para que eu pudesse encontrar essa pessoa."
- “Sim, claro. Ele foi um querido, disse que eu merecia melhor, que estava num momento que não podia dar-me tudo o que eu merecia e que sabia que havia alguém merecedor à minha espera. Apesar de lhe custar muito, e estava certo de que se iria arrepender, mas tinha de me libertar para que eu pudesse encontrar essa pessoa."
A Rita, enquanto ria à gargalhada, perguntou-me:
- “Pensaste mais alguma vez nessa conversa?”
E eu respondi que sim. Ao que ela acrescentou: - “Pensaste em quê?”
E eu respondi que sim. Ao que ela acrescentou: - “Pensaste em quê?”
E eu disse:
- “No óbvio, quantas vezes ele já se tinha arrependido!!!”
Ela não conseguia parar de rir, sempre soube que eu tinha acreditado naquela conversa de treta, mesmo depois de , um dia depois, o ter encontrado com a Ana Paula do 12º B.
Como vocês sabem a Rita "está lá" desde os primórdios, e por isso conseguiu recuperar imensos episódios. Histórias de ex-namorados, de professores que deram uma negativa porque achavam que podia fazer melhor, de amigos e familiares que pediam para não reclamar porque era boazinha, de chefes que não melhoraram a situação no trabalho, porque isso poderia causar inveja, enfim uma lista de atos bondosos tóxicos.
E a Rita, que sempre me chamou de inocente questionou, novamente, se eu estaria curada, e preparada para ver as coisas como elas realmente são.
E foi nesse momento que tomei consciência que a doença não é a minha bondade, mas sim a eterna crença na justiça da bondade. Assim, vejo nesta revelação um desígnio que é preparar-vos para sobreviver à bondade(zinha).
E foi nesse momento que tomei consciência que a doença não é a minha bondade, mas sim a eterna crença na justiça da bondade. Assim, vejo nesta revelação um desígnio que é preparar-vos para sobreviver à bondade(zinha).
Estejam atentos!
Primeiro, se és uma boa pessoa e caminhas para ser o próximo mártir, também conhecido, por Jesus Cristo, verifica se tens o poder da ressurreição porque senão vais morrer e é para sempre.
Segundo, se os falsos positivos não te incomodam a tua sobrevivência está assegurada não há como chegar a ti.
Terceiro, e o mais importante, é que a sobrevivência depende do próprio, e esta partilha é transversal a tudo na vida, estar atento e ser rápido são ações fundamentais.
Lembram-se da história do Lobo mau? Sabem porque é que ele morre sempre?
Porque é mau? Não.
Porque acredita na bondade do Capuchinho Vermelho, dos porquinhos, e dos cabritinhos e de todos os outros bonzinhos e baixa as suas defesas, desligou o seu instinto.
Em todas as histórias, a lição é sempre a mesma.
Eu dizia que a lição é que o bem triunfa sobre o mal, mas a Rita sempre disse que a lição é: “não te fies”.
Não está em causa quem tem razão, mas a conclusão é sempre a mesma, tens de ser rápido. Precisas de continuar a correr e a fugir, caso contrário FOSTE!
E se pensas que não aprendeste nada sobre a bondade, vou deixar outra dica, com a bondade dos anos que passam, por todos nós, além de precisares de estar em forma para continuar a correr, também é necessário que escutes e vejas bem, senão morres porque não viste a linha, nem o comboio, nem a trave, nem a perna estendida que te vai rasteirar.
Lembra-te que se é para sucumbir, fá-lo em grande, com dignidade, com uma boa razão para constar no obituário, senão e até lá, mantém-te vivo!
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