domingo, 18 de junho de 2017

As crianças de hoje...

...os adultos de amanhã.

Acho que já não vou a tempo de educar a maior parte dos homens que conheço, mas ainda há uma réstia de esperança que se mantém viva, em mim, em relação ao M. 

Sou mãe, sou mulher, sou irmã, sou filha, sou amiga e companheira e portanto este post chega com vinte e muitos anos de atraso, mas na realidade no momento desta descoberta ainda não havia blogs, e os computadores eram raros. A internet era o novo mundo.  

Queridos homens, rapazes, companheiros, familiares e amigos leiam bem estas palavras: as mulheres são muito fáceis de agradar, mas difíceis de manter satisfeitas, assumo. 

Mas nada como umas dicas, não se trata de um livro de instruções, porque as mulheres não querem as mesmas coisas, por outras palavras, os seres humanos querem coisas diferentes, por isso vou abordar aquilo que para mim se enquadra em questões de mitos sobre as mulheres: 

  1. a mulher gosta e sabe cozinhar

Quando as vossas mães, avós, ou outras pessoas influentes, como os pais ou outros machões, ou ainda revistas como a Crónica ou a Tv Guia, ou outras que tais, vos façam acreditar que as mulheres gostam de cozinhar e dos afazeres da casa, desenganem-se isso eram mensagens do Estado Novo e da religião que criou a imagem da "mulher capaz".  Sei que é perigoso falar sobre fascismo e o fanatismo religioso, mas importa que percebam a dimensão dos preconceitos que vivem nas cabeças. 

Eu não gosto de cozinhar, e não gosto dos afazeres da casa, mas alguém tem que os fazer, certo? 
Agora é certo que a desarrumação incomoda mais uns do que outros. 
Quando se cresce com mães que são excelentes cozinheiras, e que até gostam de o fazer, a filha não entra na cozinha, só para por a mesa ou arrumar a cozinha. Fogão é coisa proibida. 
Além disso, não tenho jeito, não gosto dessa preocupação e as coisas mais divertidas que fiz na cozinha não foram refeições. Lembro-me de algumas refeições que foram divertidas, mas até essas experiências não me fizeram fã da cozinha  


2. as mulheres cuidam da roupa 

Com a excepção da Branca de Neve, que apesar de ser criada no seu próprio castelo sorria e cantava, não conheço "outra mulher" que cante enquanto lava e estende roupa. Todas executamos estas tarefas, e confesso que estender roupa é das coisas que mais gosto de fazer e talvez porque é feito no exterior... sinto a brisa e às vezes a chuva com sabor a liberdade, mas é porque é necessário. 

Senhores produtores de máquinas de lavar roupa para quando um comando igual ao da televisão? 

Homens por favor leiam com atenção as próximas palavras, aquela porta, assustadora, onde se coloca a roupa, não tem dentes e não morde, não tenham medo. Sejam aventureiros e descubram novos prazeres, ou então partilhem somente o trabalho com a pessoa que está ao vosso lado. 


3. as mulheres não sabem o que querem 

As mulheres pertencem a este grupo de pessoas que querem ser felizes e para isso precisam de ser respeitadas e amadas, como todo ser vivo. Elas sabem o que querem, querem fazer o que gostam, ser felizes. 

Vou dar-vos alguns exemplos práticos: 

"gosto de viajar"
Como todos nós sabemos e os homens gostam de apregoar isso, os homens são pragmáticos e quando ouvem de uma mulher que ela gosta de viajar, e de conhecer o mundo, da forma mais prática que conhecem proporcionam isso à mulher. Como? Colocam a televisão no canal National Geographic e toma lá disto, é safaris, é viagens pelo pólo norte, é conhecer culturas perdidas e tudo a um clique de distância. 

"gosto de ler livros" 
Não, não são livros de culinária. Não nos interessam particularmente novas receitas ou outro tipo de dicas caseiras. Gostamos de ler livros ou revistas, e para isso gostávamos de não precisarmos de nos fecharmos na casa de banho e inventar uma necessidade. À noite, estamos demasiado cansadas para conseguir passar do primeiro parágrafo, adormecemos de imediato. 
Será difícil conseguir uma hora de sossego?

"gosto de cinema"
Quando se diz isto gosta-se de tudo, do filme, do ritual de ir ao cinema, de discutir o filme enquanto se bebe um copo. 
Claro que às vezes a vida obriga a ver cinema no sofá. Mas por favor digam-me onde fica o grande ecrã? Onde ficam aquelas horas sem ouvir passos ou chamadas de atenção? 

"gosto de assistir a boas séries de televisão"
É verdade, quem não gosta de assistir a algumas temporadas de seguida, tipo o 24 ou o GoT? E está tudo bem, quando não é demais. Devem ser para nos fazer companhia, ora em dias de faire rien ou naqueles dias que o tempo, ou as maleitas, não nos deixa sair de casa. 
Que raio de atracção é esta que existe no sofá?  

Está aí alguém? Alguém que realmente nos oiça e nos veja?


4. as mulheres não gostam de sexo

Ui, não conheço nenhuma que não goste. 
Queridos seres, e principalmente pequeno M., todo o ser humano gosta de ter e dar prazer. O contrário a isto é mentira.

O que acontece é que a maior parte das pessoas tem a vida tão preenchida que não consegue desocupar a sua cabeça e descansar o seu corpo para estes momentos de lazer e prazer. 

As mulheres são acusadas de serem descuidadas consigo próprias, de não estarem a par do que se passa no mundo, de não terem opiniões, de serem do contra, de terem repentinas "dores de cabeça".
E quando a separação acontece ainda se ouve: "nunca tinhas tempo para mim". 

Este mundo é de loucos certo?  




A vida a dois, e com mais companhia, é mais divertida, sem dúvida, mas dá muito trabalho e esse trabalho não pode ser penoso, e isto só acontece quando a carga é partilhada. É um trabalho de todos. 

As mulheres não estão mais bem preparadas que os homens. As mulheres, infelizmente, estão mais domesticadas,  e ainda têm medo das avaliações e comparações alheias. 
Mas antes de queimarmos os soutiens vamos pensar que tipo de exemplo queremos deixar para as crianças de hoje? Que tipo de adultos estamos a criar? 

Esta é a minha preocupação. 

Queridos seres que lêem estas palavras, assim como não acredito que as pessoas escolhem ser infelizes, também não acredito que as mulheres são control freak porque sim, porque nasceram assim. 

Vamos lá fazer a nossa parte para melhorar a vida dos nossos e com isso melhorarmos a nossa vida.  
  

domingo, 11 de junho de 2017

Um pouco sobre mim...

Este é para mim um espaço de libertação. Sem sombra de dúvida que este é um blog de lamentações, mas também de reconhecimento, agradecimento, e de partilha. 

Este é um local onde gosto de reflectir, de expressar-me. Umas vezes com mais piada outras vezes mais cansada, mas sempre um sinal de que continuo viva e a conhecer-me. 

Gosto de partilhar este auto-descobrimento porque muito dele veio com a idade e se puder ajudar alguém a saltar etapas ou a descobrir um atalho seguro, porque não fazê-lo? 

Mas mais importante e pela minha saúde mental continuar a escrever ajuda-me nos meus devaneios. Porque a vida está a acontecer e, como não sou um gato, esta é a única que acredito ter. 
Isto tudo para chegar a mais um momento de medo. 

Para abordar este momento vou começar por falar do filme Pretty Woman, aquele que todas as moças da minha idade viram 1000 vezes e tudo por causa das pernas da Julia Roberts, certoooo? 
Havia também um moço que suscitava alguma curiosidade, mas nada de mais... ai como é que era o nome dele, ai pá! Ah lembrei, RICHARD GERE...engraçadito... o raio do moço...

Porque este filme? Não é pelo seu valor na 7ª arte, mas sim porque quero exemplificar como a vida acontece comigo. 

Cada um(a) de nós recordará um momento deste filme de acordo com a pessoa que é. Como fazemos com outros filmes, livros, notícias, músicas, paisagens... somos transportados pelas pessoas que somos, as nossas vivências, e criamos um elo com esse momento porque tem um significado para nós. 

Isso aconteceu-me com este filme. Quando a "Vivian" explica porque se tornou prostituta, qualquer coisa como "é fácil acreditar quando te dizem que não tens valor", a sua explicação desconcertou-me então e agora. 

Não acredito que as críticas, a maledicência,  e a desvalorização sejam determinantes na pessoa que somos, mas que fazem estragos lá isso fazem.

O tempo, a maturidade, as pessoas certas e as boas opções podem enviesar o que pode parecer ser certo, uma queda de um precipício. 

Ainda hoje, para mim, é difícil aceitar que posso ter um contributo positivo na vida de alguém. Talvez por isso tenho tanto medo de estragar o futuro de duas crianças maravilhosas, "que me foram emprestadas". Porém, luto com esse receio. Por algum motivo, que me ultrapassa, as pessoas que me rodeiam são as minhas pessoas certas. Aquelas que me ajudam a corrigir o primeiro impulso de dizer que não. Que não tenho nada para acrescentar, para contribuir, ou até que possa melhorar o que quer que seja. Ter uma sugestão, quem eu? A minha opinião, a quem poderá interessar? 
E quando olho para estas pessoas que estão tão próximas de mim, recuo e corrijo esta falta de importância que penso não ter, e partilho com elas, e exponho-me e cresço mais um bocadinho. E crescer continua a doer e não é imediato! 

Mas tenho uma mensagem para deixar, e que pode ajudar outras Vivian, que é a seguinte: senão tiverem uma palavra positiva ou construtiva para deixar, não deixem nada. Guardem para vocês.

Quanto às Vivian que andam por aí, acreditem. Acreditem em vocês! 
Sim, porque não há Richard Gere que valha, nem Hollywood que chegue!!!