sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

estória 2: O Medo Absurdo

Acordei com uma enorme dor de cabeça. A noite passou, mas não passou por mim. Há noites, madrugadas, dias assim, parece que não somos nós que preenchemos o tempo, mas o tempo ocupa-se de nos preencher.

Esta dor de cabeça que me proíbe de pensar, de sentir o que sinto e até de viver a minha vida.
Disse-lhe “se essa é a tua decisão, aquela que te irá deixar feliz, fico feliz por ti e aceito-a”. Mas que parvo que fui, não tinha que aceitar ou recusar quando nada me foi pedido, só fui informado.

Havia lido um daqueles livros repletos de “lugares comuns” e que dizia que "o amor liberta", tive naquele momento a oportunidade de mostrar que aquela frase, que achei extraordinária, era praticável. Resignado pensava: "então amar então é isto?".
Escusado será dizer que não consegui dormir.
O que é que se passa comigo? Deixo-a ir assim sem lhe dizer como ela foi egoísta? Ou serei eu que estarei a ser egoísta? Com medo de ficar só? Durante aquela noite fiz e refiz aquele diálogo e na minha cabeça dizia-lhe tudo aquilo que me ia na alma, mas não passaram de cenários imaginários. Tive frio e calor, sede, faltou-me o ar. Sim, tive medo.

A minha cabeça que teimava em exibir-se, pensava: "EU" era só cabeça ou era só dor?!

Com quem falar, o que me haveriam de dizer. Às vezes parece que eu e todos aqueles que me rodeiam somos a mesma pessoa, lemos os mesmos livros, utilizamos os mesmos clichés. Talvez passemos demasiado tempo juntos, ou talvez tenhamos medo de dizer o que pensamos e sentimos para não expor as nossas vulnerabilidades, evitar cansar os nossos amigos com angústias, problemas...

Evito passear pela casa, existem demasiadas recordações.

Ontem, antes daquele fatídico jantar, ao sair de casa olhei para o meu reflexo no espelho e senti-me bem. Continuei a sentir-me bem até à sobremesa, apesar do silêncio durante o jantar, ou da conversa de circunstância, para mim tudo estava bem. Hoje não quero sentir pena de mim, não quero ver aquele espelho, não me quero ver!

O telefona toca, será ela? Mudou de ideias? Telefona para saber se estou bem?

“-Estou?
-Sim, mãe está tudo bem. Acordei agora! Não, estou sozinho. Sim, já sei que não concordas com estas relações modernas. Claro que sim, claro que vamos lanchar, sim. Ao mesmo sítio de ontem? Sim gostei, mas também gostei muito do café da semana passada. Sim, dá-me uma hora e estarei aí.”


E estarei!

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