sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

... neura...


Acordei com a neura. Há dias que sinto uma explosão de energia dentro de mim que parece que finalmente a vida apareceu e está disposta a realizar-se naquele momento. Hoje, e como tem acontecido quase sempre, não é este o caso, acordei com o barulho de um objecto pesado a cair no chão. O estrondo fez com que acordasse sobressaltada, farta de viver, cheia de pessimismo.

Capaz de desistir da vida em sociedade.

Fui tomar banho, não conheço melhor unguento para a acalmar a dor da alma, afinal não foi o estrondo que me deixou mal disposta, foi a agonia e a aflição de acordar e ter mais um dia de rotina à minha frente. Tento não pensar nisso, a semana passa num ápice, de repente já passou um ano e num instante a vida passou. O pior da vida ter passado é não ter tido coragem, um único dia, de fazer o que realmente vai na alma. De dizer não, de dizer sim, porque é nisso que acreditamos.

Tudo tem um horário, uma escala, um tempo determinado, quanto mais livres queremos ser, mais independentes, dos pais, das tradições, dos hábitos, mais dependentes nos tornamos, do tempo, de alguém, de novas rotinas. E lá se foi a autonomia e lá se foi a liberdade e a vida.

Se quero faltar ao emprego devo avisar e justificar a falta, se quero ir a casa de alguém devo informá-lo do meu intento, se quero ir de férias devo planeá-las, se não quiser acordar devo desligar o despertador, se vou chegar tarde devo levar justificação. Se me sinto doente devo esperar pela consulta, se quero ir ao médico devo agendar consulta. Se quero ir divertir-me tenho que ter dinheiro e vontade, e até essa já não vem e fica como se quere. Se quero estar com certa pessoa tenho que verificar se ela pode.

Sinto-me mal, este estrondo, é ensurdecedor! Tenho que mudar, mudar de vizinhança.

Ai a vida, estou ávida de vida! Mas de vida plena.

Talvez com a morte a vida não me surpreenda, talvez seja o momento certo para fazer o que me apetecer fazer, tenho que confirmar que vou ter vida na morte para vivê-la ao meu jeito.

Se calhar um desculpe, tinha sido suficiente para esta neura não ancorar em mim.

 Se calhar a coragem de dizer sim e não, teria sido suficiente para esta tristeza e esta desilusão não criarem raízes.

Será que perdi o encanto? Será este pessimismo? Talvez a morte desta vida seja suficiente.

O banho não foi suficiente, os actos também não o foram, as palavras estão apagadas, não há música que me alegre, não há ombro que queira.

Há um silêncio, no fundo da garganta que me diz que é melhor esquecer.

Pego na minha mala e saio para apanhar o comboio certo, na hora certa, para chegar à hora certa e dizer as palavras certas, até o dia chegar ao fim e novamente adormecer e ficar a sós com o silêncio que tanto quero e preciso, mas que tanto me inquieta.  

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