sexta-feira, 26 de julho de 2013

Inacabado

Alguém que passa e que se faz acompanhar de um aroma, aquele cheiro de perfume que ficou no ar desencadeia uma série de recordações e memórias. Imagens que surgem na cabeça, por vezes com um aperto no coração.

Memórias passadas, histórias com desfechos inacabados ou monólogos mentais sobre diálogos que nunca aconteceram.
Passa-se e repassa-se a mesma situação várias vezes, tentar perceber o porque, coisas impossíveis de analisar. Simplesmente porque a nossa cabeça não pensa da mesma forma que “o outro”.

Alguém tem que fechar a porta, como fazê-lo?

Se a porta fica aberta há a possibilidade de uma corrente de ar entrar, e trazer consigo o aroma de algo que não queremos recordar.

Às vezes o que parece não é. Determinadas vezes existem respostas às questões que pairam na nossa cabeça que preferimos não saber, respostas evasivas que não dizem nada, ou dizem muito, mas que a sua fiel interpretação não é romântica. “Quero-te perto porque fazes bem ao meu ego, perto, que é como quem diz, a uma distância segura, quando eu precisar eu ligo, e tu saberás quando não preciso de ti porque manterei a distância segura através de um silêncio profundo.”

Outras vezes o reencontro do passado, no presente, leva ao exagero, há um EU que quer mostrar que “ESTÁ BEM” - não preciso de ti, não me fazes falta, estou melhor sem ti, quando na verdade dói muito pensar “o quanto preciso de ti”. O trabalho anterior, tudo aquilo que foi feito para acabar, foi tão bem/mal feito que ninguém está liberto daquele passado. Presos pelo passado, no presente e no futuro.

Porque complicar a existência, quando tudo é difícil?
Porque não aromatizar as coisas? Cada final deveria resultar numa memória positiva.

Um acontecimento triste deveria saber a “ o pior já passou”, seria mais que um pensamento seria uma forma de estar na vida. O pior já passou e agora tem que ficar melhor. E amanhã a morte e a desilusão teriam um travo a oportunidade, a renascer.
E estaríamos sempre a recomeçar, sempre a transformar…

sexta-feira, 19 de julho de 2013

...na expectativa...

passei e olhei, à minha esquerda vi um vulto, alguém parado,
alguém que olhava em frente
pelo perfil percebi que a expressão da face demonstrava distanciamento e tristeza
perguntei se podia ajudar, a resposta foi "não, obrigada!"

pouco depois passava por mim quem havia perdido alguém querido
ainda não havia muitos dias
a tristeza pairava no ar

por outros motivos,

penso na minha companhia de sempre
na partilha de coisas grandes e pequenas
e como o semblante está carregado

a ausência da amiga de todos os dias
que foi, mas há-de voltar
mas que tanta falta me faz ...

há momentos assim
em que a tristeza é pesada
que precisamos desesperadamente que uma janela se abra

que o sol brilhe
que uma gargalhada devore todo este ar pesado

que "fique tudo bem", mesmo!
que alguém faça com que a tristeza pare!
que outro milagre aconteça!
que a espera resulte numa bênção

aguardo, e faço a minha parte acreditando, apesar de tudo!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

não chegou...

Quando se perde algo irrecuperável, mesmo depois de muito tempo passar, um sentimento, umas vezes de culpa, outras vezes de zanga, outras de incompreensão cerca-nos. Ainda outras vezes os sentimentos são de resignação. Surgem explicações: “que foi pelo melhor”, “a natureza a falar”, “que era inevitável”. E quando as perdas aumentam mais raros se tornam os momentos de paz.

Somos levados a aceitar que nada nos pertence, nada é eterno, o que fazemos da nossa vida e da vida de quem nos acompanha é tudo o que vamos tendo, sem ter.
São imagens, são momentos, são emoções, são recordações, são tudo e não são nada. Quando tudo deixa de ser palpável e físico, os esforços – de uma cabeça que trabalha- são orientados para manter as recordações presentes e inalteráveis.

Quando eu desaparecer o que ficará de mim?
Sem querer que me incomode, mas inquietando-me, o que ficará daqueles que me já me deram muito e que já cá não estão, o que será do pouco deles que vai sobrevivendo em pequenas partes de mim?

Quando assistimos a um acontecimento definitivo ou irreversível passamos a considerar o que fizemos e o que deixámos de fazer, uma parte de nós deixa de acreditar e outra parte quer acreditar mais. Acreditamos, temos fé, pedimos que não aconteça, que não se repita, mas acontece e repete-se. Então para que serviu a fé? Mas se não for a fé/esperança ao que é que nos podemos/devemos apegar?
Hoje estou assim, dentro de mim lutam a esperança e a desesperança.

Hoje é um daqueles dias que é difícil acreditar…

sábado, 6 de julho de 2013

"...regrets, I've had a few, but then again, too few to mention..."


Sou tão boa a dar conselhos, de coisas básicas, (…penso eu…) que me esqueço de os levar em consideração.
Fui andar, dar a minha caminhada debaixo de 40º, na Cidade Universitária, que é o mesmo que dizer: “walking on sunshine”, ai e isto sem a modernice do ar condicionado, começa a custar.

Mas conhecendo-me como me conheço, sou melhor a dar conselhos do que acatá-los, nada de mais poderia acontecer… protegi-me contra os escaldões, levei água comigo e um telemóvel para o caso de precisar avisar alguém, tipo INEM, ou até para, eventualmente, em caso de roubo ter alguma coisa para dar.
Porém o principal motivo porque levo o telemóvel é mesmo para ouvir música, mas hoje os fones lembraram-se de se demitirem da sua função. Primeiro o fone da direita deixou de se ouvir, depois o fone da orelha esquerda começou a fazer uns ruídos bastante incomodativos e por fim morreram os dois e eu fiquei sem música. Pior que a ausência da música é ouvir um barulho estranho acompanhado de uma sensação estranha nos pés, pois bem, quando olhei para baixo, vi que as solas (dianteiras) do meu par de ténis (com mais de 7 anos) estavam descoladas. Sem dinheiro, sem passe, sem música, entregue ao calor, à sede e ao cansaço vim para casa.

E cheguei a casa, muito vermelha. Depois de beber vários copos de água, saltei para a banheira, liguei a música – escolhi a lista aleatória- abri a torneira, e já há muito tempo que o chuveiro não me sabia tão bem: há quanto tempo não ouvia música durante o banho?

Porque é que deixamos de fazer coisa que gostamos? Falta o tempo? Porque é que, invariavelmente, oiço dizer no fim de relações “agora tenho mais tempo para mim”?
Há tantos porquês que podiam ser feitos. Que raio um “acontecimento na vida pode nos obrigar “a mudar de vida”, mas porque é que o nosso inconformismo diário não é suficiente?” Porque é que nós não somos a força suficiente? Porque é que nos habituamos às correntes e justificamos as nossas escolhas nessas correntes?

Curiosamente a lista aleatória de músicas trouxe-me My Way de Frank Sinatra, tenho outra metade de vida para viver, e sei mais hoje do que sabia ontem, devo utilizar esse conhecimento cumulativo para fazer com que os meus arrependimentos sejam poucos, mas válidos.