domingo, 23 de abril de 2017

Com um brilhozinho nos olhos

Ao chegar a um almoço, entre amigas, reparei de imediato que uma delas brilhava.
Algo tinha acontecido desde a última vez que tínhamos estado juntas.
Qualquer coisa de diferente e eu comentei: "que brilho é esse?"
E ela respondeu "Rapazes".
Rimos e pedi que me contasse tudo.  (Afinal a minha vida social já não é o que foi)

Havia pouco a dizer só que a chegada do calor tinha trazido à pele novas emoções.
Daquelas intensas. Paixão.
Contudo, esta paixão que em particular parecia ser correspondida, no geral parecia precisar de um empurrão. De alguém que dissesse àquele rapaz para não ter medo.


Uns dias antes, tinha conseguido magoar outra amiga com a minha falta de sensibilidade.
Ela que ainda está a resolver o seu interior, o seu sentir e eu, à bruta,  fiz alusões a algo que ela ainda não quer revisitar. Ela que ainda está de luto pelo fim da sua relação e eu a falar sem filtros...
A sua relação tinha terminado de uma forma penosa, sem palavras.


Ainda ontem, enquanto jantava com outra amiga, que procurava respostas, somava a estes outros episódios.
Esta amiga perguntava "porque é que alguém convida alguém para sair, vez após vez, com muito flirt à mistura, e depois não avança?"

Para mim, até há pouco tempo atrás, estas eram respostas óbvias: "senão aconteceu, senão avançou, senão explicou foi porque não quis."
Para mim era óbvio que arranjamos desculpas para justificar a ausência, o silêncio, apatia ou a falta de empenho quando a verdade é simples. Está à frente dos olhos, ele/ela não quer. Ainda não é aquele o momento dessa pessoa querer o mesmo.
A falta de visibilidade, para interpretar a realidade, tinha que ver com esse "brilhozinho nos olhos", ele confere uma sensação de felicidade que não se quer perder e inebria.

Mas, confesso que tenho vindo a desconfiar deste axioma pessoal.

Estas respostas deixaram de ser óbvias porque existe uma imensa e diferente humanidade que reage e vive as coisas de formas diferentes. E nem tudo é preto, nem branco, graças a Deus! 

Mas quando é que aceitar esta diversidade começa a cansar e a pesar? Quando é que este silêncio destrói a sedução? E o que dizer para apoiar? O que é certo dizer?

Talvez seja só preciso ouvir, e saber que é o tempo que acaba por resolver as coisas.

Talvez aconteça como no livro de Vercors "Le silence de la mer", talvez o silêncio seja unicamente quebrado para dizer "Adeus".

A ver vamos, com ou sem brilhozinho nos olhos, o quanto a humanidade me pode surpreender, e até me deixar aprender com ela.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Coisas da vida...

Não sei se já partilhei algumas coisas das coisas que valorizo, "o sal da vida", tipo deitar-me numa cama acabada de fazer. Sentir que aqueles lençóis esticados vão-se adaptar ao peso e forma do meu corpo. O cheiro da roupa de cama. 
E por gostar tanto desta sensação, da cama lavada, não consigo perceber a expressão "fazer-lhe a cama" é porque para mim o fazer a cama é uma experiência extraordinária, por favor façam-me a cama, várias vezes!!!


Fascina-me a criação de expressões que apuram os sentidos. Por exemplo, a expressão que acabei de utilizar "o sal da vida". 
Porque apesar de ser bastante gulosa não suporto comida sem sal, cá entre nós até no arroz doce coloco uma pitada de sal. Mas o fascínio que tenho por esta expressão talvez venha da história da princesa e o sal, talvez. Se calhar porque não sou boa a expressar sentimentos. Mas são as "pitadas de sal", aquelas coisas simples que dão sabor à vida e que contribuem para o auto-conhecimento. 

Gosto de pisar folhas secas. Adora esta estação do ano, quando o chão fica coberto de folhas secas que quando pisadas estalam. Aquele estalido, meu Deus como é maravilhoso. Obrigada natureza!

São tantas as pitadas que condimentam a minha vida que vou passar para aquela que basicamente me trouxe aqui. 

Não sou a maior fã do calor, mas confesso que amo aquilo que ele proporciona quando nos visita.
Pois, com a chegada do calor eis que outro prazer da vida eclodiu em mim, aquele que o inverno me priva, o andar descalça. 
Sentir o chão da casa, os diferentes tipos de chão, as suas diferentes temperaturas e texturas. 
A primeira ida à praia. O primeiro contacto próximo com o mar. O sentir a areia, quente, da praia nos pés. Pisar a areia. Chegar à água e senti-la também nos pés. Nada mais importa durante aqueles segundos iniciais... como o primeiro gole de água, à temperatura ideal, e que quando se tem sede,  percorre a garganta e causa aquele arrepio único. Que libertador! 

Antigamente, ainda na adolescência, havia quem fizesse aquela pergunta: "do que gostas mais em ti?"  e eu sempre respondi "os pés". 
Há uns anos atrás li o livro "Mulheres que correm como lobos" e fiquei presa a um parágrafo que explicava que os pés eram os olhos do nosso corpo. Que andar calçada acrescentava dificuldades à nossa percepção do mundo. Que nos afastava da nossa intuição, do nosso sentir. 
Retive esta explicação e, apesar de continuar a gostar dos meus pés, confesso que já foram mais bonitos... mas gosto do prazer que eles me dão, de continuar a sentir a vida entre e através dos dedos. 

São estas coisas da vida tão simples e banais que me fazem sentir que a vida ainda acontece surpreendentemente, mesmo quando são prazeres repetidos. 
Afinal, já dizia Heráclito que "o mesmo homem não atravessa o mesmo rio duas vezes. A água não é a mesma e o Homem também não." 

Continuemos caminhando, com ou sem calçado, mas sempre atentos ao que  vida nos tem para oferecer, mas isto é o que penso...

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Acabaram-se as férias!

Depois de um longo período no silêncio eis que regresso com muitas ideias e acho que com alguma energia para as conseguir levar adiante. A ver vamos ;)

Um ano passou...o último post foi de dia 28 de Março.
O que aconteceu entretanto? Quais as novidades...ora novidades... novidades... acho que quase nada aconteceu. Ou se calhar algumas coisas aconteceram... Brexit, Trump, e sim é mesmo verdade o David Bowie morreu e contra todas as expectativas não ressuscitou...

A nível pessoal a primeira novidade: a M. entrou para a escola. Primeiro ano. A minha vida mudou. Descobri que ainda existem mais formas de falhar. Tem sido um grande desafio deixá-la na escola antes da campainha tocar.
A paz acabou. E só agora me apercebi que antes até tinha paz...
Há trabalhos de casa. Há birras (todos os dias). Há impaciência "Mãe tu não me estás a ouvir" ou "Tu não me deixas falar" ou "tu não compreendes". E às vezes o melhor que acontece é jogar o jogo do silêncio.

Segunda novidade: a J. foi mãe no final do ano de 2016 e sim é verdade há bebés que dormem a noite toda e estão bem dispostos, quase sempre.
A todas as mulheres que pensam ser mães e que perdem essa vontade quando estão perto dos meus M. & M. acreditem, há esperança. Há recém- nascidos, bebés, e crianças boas.

Terceira novidade: Mudei de casa. Depois de 7 anos deixei para trás anos de histórias sobre e naquelas paredes. Mas, esta casa escolheu-nos. Escolheu esta família para a colorir. (Aqui para nós acho que já se arrependeu da sua escolha)
Sobre esta nova etapa posso afirmar que "no cômputo geral" está a correr muito bem. Estamos nesta casa desde o final de Janeiro e as obras terminaram no final de Fevereiro.  Tomamos banho em casa desde meados de Fevereiro e  tenho cozinha desde Março. O estacionamento é difícil, mas não é impossível. A máquina de lavar a roupa avariou-se. E desde que chegámos que os vizinhos têm vindo a colocar diferentes "e novos" avisos nas paredes e na porta da rua, e sim são para nós, e não, não são para nos dar as boas vindas.
Desde há dois meses que todos os dias tenho coisas para limpar e arrumar, e ainda existem caixas com coisas para arrumar.
A aparelhagem já toca. O som dos discos perpetua-se pelo prédio, e não me importo nada porque em questões de música sei que faço um serviço público, e dos bons, porque aqui em casa só se ouve música da boa.

Mas coisas más também aconteceram. Isto de não querer envelhecer vem com os anos sim, mas pessoalmente também tem que ver com aquilo que a idade traz, e não falo de rugas. Quando os anos passam por nós também passam por aqueles de quem gostamos. O que quer dizer que envelhecemos e vemos os outros a envelhecer. Outras vezes assistimos à doença. Ao adoecer e ao Morrer.

Também faz parte da vida, mas há uma parte de mim que gosta de finais felizes e morrer não é um final feliz, mesmo quando se está em grande sofrimento. Não é.

Tenho pensado muito, enquanto a vida ainda me acontece, sobre isto. Sobre|viver todos os dias. E sobre o que é realmente importante. Fico com uma certeza, que preciso de mais tempo para encontrar as respostas.

Continuo a pensar que a escrita me vai ajudar neste processo.

E talvez um dia lá chegue.

E quando, ou se, chegar a estas respostas vocês serão testemunhas disso, por isso fiquem por aqui e acompanhem-me nesta caminhada.