segunda-feira, 10 de abril de 2017

Coisas da vida...

Não sei se já partilhei algumas coisas das coisas que valorizo, "o sal da vida", tipo deitar-me numa cama acabada de fazer. Sentir que aqueles lençóis esticados vão-se adaptar ao peso e forma do meu corpo. O cheiro da roupa de cama. 
E por gostar tanto desta sensação, da cama lavada, não consigo perceber a expressão "fazer-lhe a cama" é porque para mim o fazer a cama é uma experiência extraordinária, por favor façam-me a cama, várias vezes!!!


Fascina-me a criação de expressões que apuram os sentidos. Por exemplo, a expressão que acabei de utilizar "o sal da vida". 
Porque apesar de ser bastante gulosa não suporto comida sem sal, cá entre nós até no arroz doce coloco uma pitada de sal. Mas o fascínio que tenho por esta expressão talvez venha da história da princesa e o sal, talvez. Se calhar porque não sou boa a expressar sentimentos. Mas são as "pitadas de sal", aquelas coisas simples que dão sabor à vida e que contribuem para o auto-conhecimento. 

Gosto de pisar folhas secas. Adora esta estação do ano, quando o chão fica coberto de folhas secas que quando pisadas estalam. Aquele estalido, meu Deus como é maravilhoso. Obrigada natureza!

São tantas as pitadas que condimentam a minha vida que vou passar para aquela que basicamente me trouxe aqui. 

Não sou a maior fã do calor, mas confesso que amo aquilo que ele proporciona quando nos visita.
Pois, com a chegada do calor eis que outro prazer da vida eclodiu em mim, aquele que o inverno me priva, o andar descalça. 
Sentir o chão da casa, os diferentes tipos de chão, as suas diferentes temperaturas e texturas. 
A primeira ida à praia. O primeiro contacto próximo com o mar. O sentir a areia, quente, da praia nos pés. Pisar a areia. Chegar à água e senti-la também nos pés. Nada mais importa durante aqueles segundos iniciais... como o primeiro gole de água, à temperatura ideal, e que quando se tem sede,  percorre a garganta e causa aquele arrepio único. Que libertador! 

Antigamente, ainda na adolescência, havia quem fizesse aquela pergunta: "do que gostas mais em ti?"  e eu sempre respondi "os pés". 
Há uns anos atrás li o livro "Mulheres que correm como lobos" e fiquei presa a um parágrafo que explicava que os pés eram os olhos do nosso corpo. Que andar calçada acrescentava dificuldades à nossa percepção do mundo. Que nos afastava da nossa intuição, do nosso sentir. 
Retive esta explicação e, apesar de continuar a gostar dos meus pés, confesso que já foram mais bonitos... mas gosto do prazer que eles me dão, de continuar a sentir a vida entre e através dos dedos. 

São estas coisas da vida tão simples e banais que me fazem sentir que a vida ainda acontece surpreendentemente, mesmo quando são prazeres repetidos. 
Afinal, já dizia Heráclito que "o mesmo homem não atravessa o mesmo rio duas vezes. A água não é a mesma e o Homem também não." 

Continuemos caminhando, com ou sem calçado, mas sempre atentos ao que  vida nos tem para oferecer, mas isto é o que penso...

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