Ao chegar a um almoço, entre amigas, reparei de imediato que uma delas brilhava.
Algo tinha acontecido desde a última vez que tínhamos estado juntas.
Qualquer coisa de diferente e eu comentei: "que brilho é esse?"
E ela respondeu "Rapazes".
Rimos e pedi que me contasse tudo. (Afinal a minha vida social já não é o que foi)
Havia pouco a dizer só que a chegada do calor tinha trazido à pele novas emoções.
Daquelas intensas. Paixão.
Contudo, esta paixão que em particular parecia ser correspondida, no geral parecia precisar de um empurrão. De alguém que dissesse àquele rapaz para não ter medo.
Uns dias antes, tinha conseguido magoar outra amiga com a minha falta de sensibilidade.
Ela que ainda está a resolver o seu interior, o seu sentir e eu, à bruta, fiz alusões a algo que ela ainda não quer revisitar. Ela que ainda está de luto pelo fim da sua relação e eu a falar sem filtros...
A sua relação tinha terminado de uma forma penosa, sem palavras.
Ainda ontem, enquanto jantava com outra amiga, que procurava respostas, somava a estes outros episódios.
Esta amiga perguntava "porque é que alguém convida alguém para sair, vez após vez, com muito flirt à mistura, e depois não avança?"
Para mim, até há pouco tempo atrás, estas eram respostas óbvias: "senão aconteceu, senão avançou, senão explicou foi porque não quis."
Para mim era óbvio que arranjamos desculpas para justificar a ausência, o silêncio, apatia ou a falta de empenho quando a verdade é simples. Está à frente dos olhos, ele/ela não quer. Ainda não é aquele o momento dessa pessoa querer o mesmo.
A falta de visibilidade, para interpretar a realidade, tinha que ver com esse "brilhozinho nos olhos", ele confere uma sensação de felicidade que não se quer perder e inebria.
Mas, confesso que tenho vindo a desconfiar deste axioma pessoal.
Estas respostas deixaram de ser óbvias porque existe uma imensa e diferente humanidade que reage e vive as coisas de formas diferentes. E nem tudo é preto, nem branco, graças a Deus!
Mas quando é que aceitar esta diversidade começa a cansar e a pesar? Quando é que este silêncio destrói a sedução? E o que dizer para apoiar? O que é certo dizer?
Talvez seja só preciso ouvir, e saber que é o tempo que acaba por resolver as coisas.
Talvez aconteça como no livro de Vercors "Le silence de la mer", talvez o silêncio seja unicamente quebrado para dizer "Adeus".
A ver vamos, com ou sem brilhozinho nos olhos, o quanto a humanidade me pode surpreender, e até me deixar aprender com ela.
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