quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A sabedoria dos 40... ou não...

Há uma boa dezena de anos decidi fazer yoga. 
Aguentei 6 meses de: "a posição correta não é essa", "tem que usar o diafragma", “inspire, não, não é para expirar”, “não está a fazer isso bem”, e entre tantas outras chamadas de atenção, acabei por desistir. Não me era confortável. 
Apesar de gostar muito da parte do relaxamento e da saudação ao sol. (Qualquer coisa como “Eis-me aqui sol a agradecer-te por seres essa fonte de vida, de luz, de calor.”)

Era, foi, bom, mas não era para mim…

Decidi este ano ir para a natação. 
No passado, fui salva de um afogamento. Fui mesmo salva. Recordo que andei embrulhada nas ondas, que fiquei em pânico, e em último lugar que apanhei uma bofetada para me acalmar. É uma daquelas histórias que cada vez que a conto consigo muitas gargalhadas, mas sempre que a recordo agradeço à pessoa que me salvou. 

Depois de ultrapassar um afogamento, de ter deixado para trás meses de yoga, e de agora na casa dos 40 considerar que já tenho alguma maturidade, a suficiente para sair da minha zona de conforto, acabei por me inscrever na natação. E estou a aprender a nadar, ou não. 

Ainda não sei se estou a aprender a nadar porque na verdade não saio do lugar…
Mas o lado bom disto é o facto de ter uma hora na água. Uma hora para mim. Gosto de água, talvez porque seja aquariana, ou porque a água me traz um sentimento de tranquilidade. Contudo, não tenho sossego porque a professora (que adoro) passa o tempo a gritar o meu nome e a corrigir-me, mas ao contrário do que aconteceu no passado, não me importo e escuto e esforço-me por cumprir com as suas coordenadas.

Será que estou mesmo na fase de maturidade?

Não sei. Ando um pouco perdida. Talvez o adjetivo mais apropriado seja inquieta. É difícil aprender quando já se tem tantos “tiques”, é difícil aprender a fazer bem, contrariar o hábito, mas não é impossível.

Talvez seja por isso que no dia da natação quando chego a casa tento contrariar o habitual… e é por isso que há sempre discussão. Óbvio, certo? Pergunto-me se o motivo não será o facto de engolir muita água da piscina. Será que o meu cérebro fica danificado com a quantidade de cloro e de urina da água que engulo?

E novamente aqui estou e a procurar razões para contrariar hábitos instalados. E custa fazê-lo. É mais fácil, acho, ignorar. Pelo menos aparentemente é mais fácil. Só que o não saber, estas dúvidas vão acompanhar-nos pela vida. E quando parece que está resolvido essas dúvidas revisitam-nos, e às vezes através de experiências que vivenciamos com outras pessoas. Assim, e passando um pouco por louca ando à procura de respostas. Deixar de dar explicações pelos comportamentos dos outros. Deixar de inventar uma desculpa. Não, agora ando a mergulhar no que me incomoda.

E isso fez com que há poucos dias telefonasse ao passado, custou um pouco, mas porque estava com medo. Medo. Medo de que como diz o poeta ouvir novamente aquela voz fosse como “matar a sede com água salgada”. Mas, não, não foi nada e não serviu para nada. À pergunta: “gostava de saber porque é que quando me vês não me falas? Fiz alguma coisa? Faço parte de um passado que queres esquecer…” A reposta foi: “porque não tive oportunidade porque eu falo-te”. Conclui a conversa com “então deixa estar na próxima vez eu crio a oportunidade” e do outro lado ouvi: “sim, e liga sempre que quiseres.”

O meu amigo PA disse que o que fiz me libertou. Que mostrei que não estou presa aquele passado.
Ainda estou surpresa por o ter feito. O número foi apagado e não irei voltar a ligar, e não estou certa que quando o vir irei criar uma oportunidade. Porém, quando olho para este ano sou obrigada a pensar que estou rodeada de desafios e de incertezas. De situações que me estão a obrigar a sair “da zona de conforto”.

E aqui estou eu, novamente, a namorar as incertezas da vida e grata por tê-las.
Mais, por ainda ter a minha vida para a preencher de dúvidas, de vontades, e de desafios.

E assim como gosto de fazer nos dias de natação, dentro da piscina, também estou a deixar-me ir na vida, ao som e à velocidade da água. E simplesmente boiar. Manter-me confortável, e à tona, ouvindo a minha respiração. Afinal estou viva!!!


P.S. Hoje provei favas... e gostei!!!

Sem comentários:

Enviar um comentário