Como é hábito sentei-me na sanita e
pensei na roupa que iria vestir. Abri a torneira da água quente e rapidamente
me pus debaixo do chuveiro. A água que caía do chuveiro lavava a alma e o corpo
e levava consigo a vontade e a força.
Enxuguei-me e fui directa ao guarda-roupa,
vesti-me, e de seguida, como é habitual, fiz a cama.
Às sete horas e quarenta minutos
estava a sair de casa, e como sempre o faço, fui à cafetaria que fica na frente
da minha casa, tirei o meu copo dentro da mala e recarreguei com o café da
manhã.
Dei comigo com metade do caminho de
sempre percorrido, a ver as mesmas pessoas, os mesmos cães, e a pensar que “afinal
não sou eu a única pessoa de hábitos”.
Trinta minutos depois estava no
trabalho, com o cumprimento de sempre: Bom dia, mais um dia …não é verdade?!”.
Não precisava de esperar para ouvir a resposta. E para que ouvi-la?!
Enquanto o elevador me levava até ao
meu piso, pensava “será que alguém daria pela minha ausência se faltasse?” “Se mudasse
de caminho e de hábitos alguém iria notar?” E enquanto me questionava telefonava
à minha mãe. Estava tudo bem com ela, estava de saída para o ginásio com as
amigas, não tinha tempo para mim, no íntimo ficava contente com esta
indisponibilidade, não iria telefonar a outra hora, e ela não iria retribuir o
meu telefonema, afinal não havia nada para dizer.
Na sala de reuniões, à mesma hora de
sempre, reunimos e estabelecemos as tarefas para executar naquele dia. Patrick,
o jovem indiano, interrompeu, sem causar estranheza porque como era habitual todos
esperávamos por ele, e pelas sandes que ele distribuía, não podia ser de outra
maneira…A hora do almoço era a parte mais desagradável do dia, todos tinham alguma coisa para contar, para partilhar, um a querer mostrar que estava mais vivo que outro. Cada um, à sua maneira a tentar exibir a sua vida e como ela era colorida e preenchida. Ai que aflição! Era a parte do dia que mais demorava a passar. Uma hora, uma simples hora em que o barulho não me deixava pensar, ou simplesmente não me permitia não pensar.
O dia de trabalho terminava às dezoito horas com um simples adeus, ou até amanhã. Ocasionalmente convidavam-me para sair, beber um copo, ir ao cinema, ou simplesmente fazer qualquer coisa. Nunca aceitei, esta era a minha vida, a minha opção.
Seguia o meu caminho, de sempre, até casa, passava no supermercado, trazia comigo o essencial, queria chegar a casa o mais rápido possível.
Era quando colocava a chave na porta que o dia começava. Ouvia a música de começo do dia, só Beethoven me compreendia, a 5ª sinfonia chegava ao meu coração como jamais alguém ou alguma coisa chegaria. E enquanto preparava o jantar, como sempre o fazia e o iria fazer, pensava invariavelmente que amanhã devia mudar de rotina, e com esses pensamentos acabava por adormecer.
Não era autismo, não o sabia fazer de outra forma, deixava um porém para amanhã…
E o amanhã, rapidamente se tornava hoje.
São sete horas da manhã. Já o sabia antes do despertador tocar, no entanto esperei que ele tocasse para sair da cama.
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