Há uma boa dezena de anos decidi fazer yoga.
Aguentei 6 meses de: "a posição correta
não é essa", "tem que usar o diafragma", “inspire, não, não é
para expirar”, “não está a fazer isso bem”, e entre tantas outras chamadas de
atenção, acabei por desistir. Não me era confortável.
Apesar de gostar muito da parte do
relaxamento e da saudação ao sol. (Qualquer coisa como “Eis-me aqui sol a
agradecer-te por seres essa fonte de vida, de luz, de calor.”)
Era, foi, bom, mas não era para mim…
Decidi este ano ir para a natação.
No passado, fui salva de um afogamento. Fui
mesmo salva. Recordo que andei embrulhada nas ondas, que fiquei em pânico, e em
último lugar que apanhei uma bofetada para me acalmar. É uma daquelas histórias
que cada vez que a conto consigo muitas gargalhadas, mas sempre que a recordo agradeço
à pessoa que me salvou.
Depois de ultrapassar um afogamento, de ter
deixado para trás meses de yoga, e de agora na casa dos 40 considerar que já
tenho alguma maturidade, a suficiente para sair da minha zona de conforto,
acabei por me inscrever na natação. E estou a aprender a nadar, ou não.
Ainda não sei se estou a aprender a nadar
porque na verdade não saio do lugar…
Mas o lado bom disto é o facto de ter uma
hora na água. Uma hora para mim. Gosto de água, talvez porque seja aquariana,
ou porque a água me traz um sentimento de tranquilidade. Contudo, não tenho
sossego porque a professora (que adoro) passa o tempo a gritar o meu nome e a
corrigir-me, mas ao contrário do que aconteceu no passado, não me importo e
escuto e esforço-me por cumprir com as suas coordenadas.
Será que estou mesmo na fase de maturidade?
Não sei. Ando um pouco perdida. Talvez o
adjetivo mais apropriado seja inquieta. É difícil aprender quando já se tem
tantos “tiques”, é difícil aprender a fazer bem, contrariar o hábito, mas não é
impossível.
Talvez seja por isso que no dia da natação
quando chego a casa tento contrariar o habitual… e é por isso que há sempre
discussão. Óbvio, certo? Pergunto-me se o motivo não será o facto de engolir
muita água da piscina. Será que o meu cérebro fica danificado com a quantidade
de cloro e de urina da água que engulo?
E novamente aqui estou e a procurar razões
para contrariar hábitos instalados. E custa fazê-lo. É mais fácil, acho,
ignorar. Pelo menos aparentemente é mais fácil. Só que o não saber, estas
dúvidas vão acompanhar-nos pela vida. E quando parece que está resolvido essas
dúvidas revisitam-nos, e às vezes através de experiências que vivenciamos com
outras pessoas. Assim, e passando um pouco por louca ando à procura de respostas.
Deixar de dar explicações pelos comportamentos dos outros. Deixar de inventar
uma desculpa. Não, agora ando a mergulhar no que me incomoda.
E isso fez com que há poucos dias telefonasse
ao passado, custou um pouco, mas porque estava com medo. Medo. Medo de que como
diz o poeta ouvir novamente aquela voz fosse como “matar a sede com água
salgada”. Mas, não, não foi nada e não serviu para nada. À pergunta: “gostava
de saber porque é que quando me vês não me falas? Fiz alguma coisa? Faço parte
de um passado que queres esquecer…” A reposta foi: “porque não tive
oportunidade porque eu falo-te”. Conclui a conversa com “então deixa estar na
próxima vez eu crio a oportunidade” e do outro lado ouvi: “sim, e liga sempre
que quiseres.”
O meu amigo PA disse que o que fiz me
libertou. Que mostrei que não estou presa aquele passado.
Ainda estou surpresa por o ter feito. O
número foi apagado e não irei voltar a ligar, e não estou certa que quando o
vir irei criar uma oportunidade. Porém, quando olho para este ano sou obrigada
a pensar que estou rodeada de desafios e de incertezas. De situações que me
estão a obrigar a sair “da zona de conforto”.
E aqui estou eu, novamente, a namorar as
incertezas da vida e grata por tê-las.
Mais, por ainda ter a minha vida para a
preencher de dúvidas, de vontades, e de desafios.
P.S. Hoje provei favas... e gostei!!!