na opinião da autora:
O luto veste de preto ou de outra
cor qualquer. Demora em alguns casos uma vida, em outros casos meses ou horas
para superar. Leva o tempo que levar e manifesta-se da forma mais adequada à
pessoa e à sua perda.
O luto está relacionado com a
perda, com a morte, com o desaparecimento, com uma distância forçada de algo ou
alguém, e ainda com a decepção e desilusão pode ainda ser o fim de uma possibilidade. As memórias e as recordações,
sobrevalorizadas na vida, neste momento de maior fragilidade e dor, são como
sombras, que perseguem, agonizam a dor tornando-a presente e real.
Numa linha contínua de vivências
e experiências que ocorrem durante a vida existem largos períodos de tempo onde
se constata frequentemente e amiúde que a morte é uma parte integrante da vida.
Aprender a viver sem alguém, sem algo, integra o processo de crescimento que
com o passar do tempo tendencialmente contamina os vários momentos da vida,
tornando-se cada vez mais constante.
Com a consciência que existem
limites humanamente insuperáveis e barreiras sociais difíceis de derrubar
vive-se cada dia envelhecendo.
Os sonhos vão desaparecendo, as
músicas são menos alegres, as desconfianças crescem, a inocência perde-se e as
ambições alteram-se.
Durante a infância e a
adolescência acredita-se ser capaz de fazer tudo, ou pelo menos pensa-se que se
tem uma vida para conseguir o todo, com os anos a passar “esse todo” representa
algo mais pequeno.
Aparentemente pode-se ser quem se
quiser ser, ou fazer o que mais apetece. A pergunta repete-se: “O que é que queres
ser quando cresceres?”. Se a pergunta não for colocada por outros, será o
próprio, inevitavelmente, que acabará por fazê-la. O tempo passa, e mesmo quando
não se quer fazer nada, esta posição já é o resultado de uma escolha.
Não obstante, “ser tudo” parece
que está a um curto passo de distância, ou a um passo da magia. Porém ninguém
se prepara quando os sonhos não acontecem, ou quando desaparecem. Dificilmente
alguém cresce avisado que a mudança é a única constante da vida.
O luto surge, às vezes representa
o tempo de mudança no qual cada um se prepara para, à sua maneira, lidar com a
perda, com a tristeza, com a desilusão, com a frustração, com o desânimo, que
às vezes se liberta inesperadamente e volta a surgir com uma dor mais forte.
O luto é do próprio, acontece,
desaparece e reaparece. Transforma-se constantemente, ora em amor, ora em
saudade, ora em força ou nos seus antónimos.
Talvez não seja preciso inventar
novas palavras para o luto, as que existem fazem sentido: “Tudo tem a sua
ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Há tempo de
nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se
plantou; tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de
edificar; tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de
dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar,
e tempo de abster-se de abraçar; tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de
guardar, e tempo de deitar fora; tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar
calado, e tempo de falar; tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e
tempo de paz.” (Eclesiastes 3)
É talvez agora o tempo de aceitar a mudança, de percorrer o
luto e tentar perceber o porque do acontecimento, o porque do sentir oscilante,
é tempo de esforçar-se por perceber “O PORQUE”.
O tempo traz e leva amizades que se dissolveram, sonhos
destruídos, mortes, sentimentos que mudaram, certezas turvas. Basta de correr
atrás do vago, dos elogios, das palavras vãs sem pensar naquilo que deve importar:
“que pessoa queres ser?”.
Porém é como diz o grande Saramago “mas, lá no íntimo
profundo, que é onde se digladiam as contradições do ser” (Viagem do Elefante), completo eu que há uma inquietação
permanente!
Apesar destes acontecimentos que circunscrevem a vida há mais para descobrir, para viver, para acreditar, e há sempre a esperança de um renascer.
É um princípio como outro qualquer, porque não recomeçar agora?